sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Mapas Artigos, Historias Curiosas (O Eldorado)


Mapa Geografico de America Meridional, Cruz Cano y Olmedilla,1790 /
 South America, Seale, 1744 / Gujana, John Lerius, 1556
YES, SIR! EL DORADO É AQUI

No coração da floresta amazônica, reluzia uma cidade com prédios e telhados dourados, habitada por indígenas que tomavam banho de ouro em pó às margens de um lago. Lenda ou verdade? Pesquisas recentes fizeram surpreendentes descobertas sobre a incrível "cidade de ouro", incluindo antigas trilhas incas e fortes de pedra em plena floresta. 

Os brasileiros, entretanto, não têm acesso à novidade: tudo de importante no patrimônio arqueológico de Manoa ou El Dorado foi levado para Londres, com a complacência e ajuda financeira do governo brasileiro, através do INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em 1987. E mais: embora venda bem no exterior, não há editora daqui interessada em publicar o livro que relata a descoberta da cidade, e até as visitas ao local são privilégio de estrangeiros, trazidos através de uma agência de viagens norte-americana.

Os mapas da América do Sul nos séculos 16 e 17 mostram um enorme lago na Amazônia com as legendas "Parime", "Manoa", "Paranapitinga" ou "Mar Branco". Seria aí, nas fraldas de Roraima, que existiu o El Dorado. Sua história remonta a 1532, quando o exército espanhol do conquistador Francisco Pizarro chegou a Cajamarca, no Peru, e aprisionou o chefe índio Atahualpa, representante do deus Sol, exigindo dos nativos um fabuloso resgate para libertá-lo. Muitas mulheres indígenas foram obrigadas a ter relações sexuais com os soldados, dando origem aos índios de pele vermelha e olhos claros, um dos ramos yanomani.

Quando puderam se livrar das garras dos espanhóis, muitas delas seguiram uma trilha que as trouxe ao Brasil, ao norte do Rio Negro, onde passaram a viver e se tornaram as lendárias guerreiras amazonas. Histórias na região do Alto Amazonas dão testemunho da passagem dessas misteriosas "Virgens do Sol" pela floresta e também das viagens organizadas por soldados carregados de ouro procedente de El Dorado; as cargas eram parte do resgate do chefe Atahualpa, que os espanhóis, ao invés de libertarem, assassinaram.

Um fato que intrigava os pesquisadores era por que os mapas deixaram de indicar o lago no decorrer do século 18. Hoje se sabe que ele secou em conseqüência da elevação gradual do seu fundo e a floresta tomou a enorme área antes submersa - hoje está coberta por pastagens. Foi um pesquisador chileno radicado no Brasil, Roland Stevenson, quem descobriu em 1987 a localização exata da até então mítica El Dorado: ficava na Ilha de Maracá, no meio do lago Parime, em Roraima, e não às suas margens, como imaginavam os muitos aventureiros que a procuraram, inutilmente, durante séculos.

Um mês após a notícia correr, chegaram à ilha mais de 200 ingleses, a serviço da Royal Geographic Society em convênio com o INPA. O acesso ao sítio arqueológico foi exclusivo dos britânicos, e os pesquisadores brasileiros tiveram que se contentar com uma pequena área distante, nos arredores. O vigia que fazia o policiamento fluvial de Maracá relatou que "os ingleses tiravam toneladas e mais toneladas de material hermeticamente embalado, enviado de avião para a Guiana Inglesa e daí para Inglaterra". Muitos viram os numerosos caixotes despachados pelo Aeroporto de Boa Vista e que o Itamarati acertou para que não fossem vistoriados.

O vigia acredita que, pelo grande peso dos caixotes e pelo cuidado com que os ingleses os manipulavam, poderiam conter peças de ouro. Questionado, o INPA alegou inicialmente que continham terra para análise na Inglaterra e, posteriormente, que eram "animais empalhados". Stevenson garante que "o resultado dessas supostas análises nunca retornou ao Brasil, como também nenhum estudo considerável e útil".

Recomendo enfaticamente a entrevista de Roland Stevenson para o site Arqueologia Americana, onde esta impressionante denúncia é aprofundada.

Em busca da cidade de ouro de Manoa: entrevista com o explorador Roland Stevenson

Em busca da cidade de ouro de Manoa: entrevista com o explorador Roland Stevenson




Segundo o explorador chileno Roland Stevenson, o povo Inca se abastecia de ouro no atual estado de Roraima, no extremo norte do Brasil.
Neste lugar existia um lago chamado Manoa, no qual havia uma ilha chamada Maracá, de onde justamente os Incas importavam o precioso metal.
Segundo Stevenson, nas margens ocidentais do lago viviam 14 etnias diferentes de indígenas, as quais utilizavam joias de ouro que comercializavam com os Incas.
A primeira expedição que se fez através dos Andes em busca do El Dorado foi organizada por Gonzalo Pizarro, o irmão de Francisco Pizarro.
Gonzalo Pizarro estava seguro de poder encontrar aquela cidade mítica e por conseguinte planejou a famosa expedição de 1541, a qual terminou na maior exploração fluvial de todos os tempos, levada a cabo pelo segundo comandante da viagem, o espanhol Francisco de Orellana, em 1542.
Sem embargo, do El Dorado não se encontrou rastro, dado que Orellana somente pôde navegar pelo rio que batizou Rio Amazonas (por haver visto mulheres guerreiras como as Amazonas da mitologia grega), já que, em primeiro lugar, não tinha os homens nem os meios para empreender uma viagem pelo interior e, em segundo lugar, porque o território era tão extenso, que sua exploração haveria requerido muitos anos.
Não obstante, as mulheres guerreiras eram uma realidade e os relatos indígenas fizeram crer que estas tinham sua própria cidade nas margens de um lago interno.
Nas expedições seguintes, vários aventureiros, a partir de 1584, tentaram chegar àquele lago chamado Manoa (“lago” em língua indígena acháua).
O primeiro explorador que adentrou na selva venezuelana em busca de Manoa foi o espanhol Antonio de Berrío em 1584. Explorou vários afluentes do Orinoco e do Caroní, mas não conseguiu atravessar as montanhas chamadas Pacaraima, mais além das quais os indígenas diziam que se encontrava o lago. Fez inclusive uma segunda expedição em 1591, mas não teve êxito.
O segundo aventureiro que adentrou na selva do Caroní foi o inglês Walter Raleigh, mas tampouco ele logrou o objetivo. De todos os modos, os dados que transmitiu serviram ao inglês Thomas Harriot para desenhar seu famoso mapa de 1599, no qual se localiza o lago, denominado Parime (em língua Caribe significa “grande lago”).
Por outro lado, alguns subalternos de Berrío e Raleigh, como Domingo de Vera e Pedro Maraver em 1593, e Laurence Keymis em 1596, chegaram até o lugar onde hoje está situada aproximadamente a fronteira de Venezuela-Brasil, e ficaram atônitos quando viram que os indígenas utilizavam grandes quantidades de ouro para adornar-se, mas não puderam continuar a viagem por falta de homens e de meios. A última expedição que se aproximou à zona do lago de Manoa foi a do inglês Thomas Roe, a qual também fracassou.
Segundo Stevenson, existia uma estrada pré-colombiana, hoje escondida entre a selva, que desde a atual Colômbia meridional chegava, passando pelo norte do Rio Negro, até o lago de Manoa, no atual estado brasileiro de Roraima, para terminar no litoral atlântico, correspondente ao que hoje é o estado do Amapá.
Este caminho chamado Nhamini-wi é rico em petróglifos que evocam a grande cultura do Peru.
Uma das provas que sustentam esta tese é a de que alguns povos que ainda hoje vivem por essas zonas falam línguas do tipo quéchua, tal como os Incas.
As línguas destes povos, como os Waiapí do Amapá ou os Talipang de Roraima, foram estudadas por eminentes linguistas, como Migliazza, e a tese de Stevenson foi confirmada.
Ademais, em toda a área se encontraram petróglifos que reproduzem alguns símbolos incaicos, por exemplo, o de uma lhama, e também isso incita a pensar que a tese do chileno tem um fundamento de verdade.
Stevenson, em algumas de suas viagens pelo estado de Roraima, encontrou também algumas pedras redondas e dentadas, utilizadas como porretes pelos Incas.
Em suas expedições, no transcurso de 29 anos, Roland Stevenson encontrou, ademais, o famoso lago de Parime, o qual hoje está seco, no lugar que atualmente se chama Lavrado de Boa Vista.
Depois de haver estudado o território, com a ajuda de alguns geólogos, Stevenson verificou que em todas as colinas e montanhas que circundam à savana, pode-se encontrar um sinal recorrente, situado a aproximadamente 120 metros sobre o nível do mar, que indica o nível do antigo lago.
Os geólogos da expedição, Federico Cruz, Salomão Cruz e Gert Woeltye deduziram, junto com o estudo dos solos e do pólen das flores, que a savana era antigamente um lago enorme, que tinha um diâmetro de 400 quilômetros e uma extensão aproximada de 80.000 quilômetros quadrados. Segundo esses investigadores, o lago começou a secar ao redor do começo do século XVI da era de Cristo.
Segundo Stevenson, o lugar exato onde esteve construída Manoa é na parte ocidental do lago, tal como se desenhou nos mapas da época, nas cercanias da ilha de Maracá. Stevenson explorou o lugar de Maracá em 1987 e encontrou restos humanos que provavelmente já haviam sido saqueados no transcurso dos anos.
Durante minha última viagem pela Amazônia, tive a oportunidade de conhecer o explorador chileno Roland Stevenson, que reside na cidade de Manaus desde há muitos anos e que dedicou sua vida à busca do El Dorado de Manoa.
A continuação, o texto da entrevista:
Yuri Leveratto: Senhor Stevenson, você sustenta que os Incas se abasteciam de ouro no lago Parime. Que necessidade tinham os Incas de viajar milhares de quilômetros, do atual Equador até a atual Roraima, para obter o que podiam encontrar no Peru, onde ainda hoje há muito ouro nos rios, por exemplo, no Madre de Dios? E se assim tivesse sido, o que davam em troca às populações de Roraima?
Roland Stevenson: Sim, é certo que no Peru havia muito ouro, mas Roraima era um dos lugares estratégicos, entre alguns outros, para abastecer-se do precioso metal. Em minha opinião, o trocavam por coca ou por animais típicos do Peru, como as lhamas.
Yuri Leveratto: Que evidências encontrou na chamada estrada pré-colombiana?
Roland Stevenson: Muitas. Sobretudo, vários muros de contenção, muitos petróglifos e pictogramas que representam símbolos incas, como, por exemplo, o de uma lhama. Ademais, encontrei alguns objetos tipicamente incaicos, como pedras redondas e dentadas, as quais eram utilizadas pelos Incas como porretes, quer dizer, como armas. Amarrava-se a um extremo de uma haste de madeira e se com essa golpeavam o crânio de um inimigo, podiam matá-lo. Outras evidências da existência do caminho pré-colombiano são as línguas dos povos indígenas que vivem naquela zona, das quais algumas pertencem ao tipo quéchua e, finalmente, meus estudos antropológicos, segundo os quais, com efeito, os povos de Roraima têm características somáticas parecidas às dos Incas.
Yuri Leveratto: Como chegou à conclusão de que o lago Parime existiu realmente?
Ronald Stevenson: Junto com alguns eminentes geólogos examinei, no transcurso de várias viagens, a zona chamada Boa Vista, uma vasta área situada ao norte da atual capital de Roraima. Pudemos verificar que, nas colinas circundantes, existe um claro sinal de demarcação situado a uns 120 metros sobre o nível do mar, que assinala o nível do lago nesse então, posto que agora está seco. Os geólogos da expedição estudaram o pólen das flores que há hoje no fundo do lago extinto e puderam verificar que este se secou a partir de 1300 de nossa era.
Yuri Leveratto: O que encontrou nos arredores do que foi o famoso lago de Parime?
Ronald Stevenson: Durante algumas das viagens que fiz pela zona, especialmente pela ilha de Maracá, encontrei várias tumbas e restos humanos, mas não encontrei nunca joias de ouro. A ilha de Maracá era uma necrópolis e os indígenas da zona sepultavam ali a seus defuntos deixando as joias de ouro sobre os cadáveres, porque suas superstições os impediam de levar consigo os objetos pessoais dos defuntos.
Depois de meus descobrimentos, todo o lugar foi declarado zona de grande interesse arqueológico e as autoridades brasileiras começaram a estudá-las desde um enfoque científico.
Yuri Leveratto: Segundo você, o El Dorado verdadeiro estava situado naquele lugar?
Ronald Stevenson: Sim, mas não era uma cidade pavimentada com ouro como se fantasiava. A palavra El Dorado tem origem espanhola. A zona da ilha Maracá simplesmente era um lugar riquíssimo em jazidas auríferas onde viviam várias tribos indígenas. O ouro foi saqueado com o passar dos séculos posteriores. Ainda hoje se fantasia com que haja uma cidade de pedra nas montanhas vizinhas, mas ninguém a encontrou.
Yuri Leveratto: Segundo você, pode haver existido anteriormente uma cultura amazônica primordial, da qual se originaram depois as distintas etnias?
Ronald Stevenson: Creio que a história do Novo Mundo tal como está, deva ser reescrita. Os primeiros colonizadores da América foram os africanos e não os asiáticos. Depois de meus estudos de antropologia somática, pude constatar que a maioria dos restos humanos achados no continente tem rasgos negroides e não mongoloides como se divulgou erroneamente. Em particular, os Olmecas e o povo que vivia em San Agustín, na atual Colômbia, são provas de minha tese. A mesma migração através do estreito de Bering, segundo minha opinião, é verdade só parcialmente. É provável que alguns povos asiáticos chegaram a América através do atual Alaska (os esquimós), mas eu considero que a maioria dos asiáticos chegou a América pelo mar, desde Japão e China, viajando em barcos rústicos, costeando o continente asiático e posteriormente as terras americanas. Esta migração primordial sucedeu antes da idade de bronze. Os asiáticos chegaram ao Peru e desde esse lugar se espalharam por todo o continente, tanto no Norte como na América do sul. Os descendentes dos asiáticos se mesclaram depois com os descendentes africanos e formaram a que foi a cultura mãe da Amazônia, a mais antiga da América.
Yuri Leveratto: Segundo você, o que há de verdade na crônica de Gaspar de Carvajal, o capelão da expedição de Orellana de 1542? Existiram realmente as Amazonas, as mulheres guerreiras?
Ronald Stevenson: Certamente, as Amazonas na verdade existiram, apesar de que os relatos que as descrevem são, em parte, exagerados. Provavelmente existiram tribos conformadas só por mulheres, e os espanhóis, servindo-se do mito grego das Amazonas, começaram a fantasiar e deste modo, as descreveram com um só seio, quando seguramente isto só fazia parte de um mito. Eu creio que estas mulheres foram as “Virgens do Sol”, mulheres incas que se refugiaram na selva depois dos saques e as violações feitas pelos espanhóis de Pizarro.
Yuri Leveratto: Qual é a etnia que mais lhe interessou no curso de suas viagens?
Ronald Stevenson: A etnia Yanomâmi. Eles creem que se recebem um presente, por exemplo, um machado de ferro, nele há uma parte do espírito de quem a presenteou. Esta é a razão pela qual não me mataram em uma ocasião, porque se o houvessem feito, teriam que abandonar os presentes que lhes dei nas viagens anteriores.
Yuri Leveratto: Qual é a verdadeira origem dos Yanomâmi?
Ronald Stevenson: Os Yanomâmi não são uma etnia de todo “pura”, como muitos antropólogos erroneamente a catalogaram. Ao contrário, eles têm uma origem asiática direta, mas também quéchua (ameríndia) e negroide. Ademais, mesclaram-se depois com caucasoides, quer dizer, com os filhos das mulheres incas que foram violadas pelos espanhóis. Esta é a razão de alguns traços somáticos típicos dos caucasoides, como cabelos loiros e olhos azuis ou verdes. Não se pode esquecer que viveram desde tempos imemoráveis no caminho pré-colombiano e que, portanto, tiveram contato com os chibchas e os quéchuas e posteriormente com os espanhóis que buscavam Manoa.
Yuri Leveratto: Senhor Stevenson, quando iremos ao território dos Yanomâmi? Você sabe que para mim seria difícil e perigoso ir só, mas com você, que tem experiência, a viagem me resultaria mais fácil e poderia aprender muitas coisas.
Ronald Stevenson: Decidi viajar uma vez mais à zona do Pico da Neblina no próximo ano. Se quiser, pode me acompanhar. Verá, os Yanomâmi não são tão violentos como se conta, simplesmente não gostam das fotografias, pensam que lhes roubam a alma fotografando-os. Mas para mim, que amo desenhar, tudo foi mais fácil, meus desenhos lhes causaram curiosidade e assim me fiz amigo. De maneira que se quiser, iremos no próximo ano, está bem?
Yuri Leveratto: Estarei muito contente de ir com você. Muito obrigado pela entrevista e por haver tentado decifrar um dos maiores mistérios de todos os tempos.

YURI LEVERATTO
2008 Copyright
Artigo traduzido por Victor Kawakami

Artigo sobre antigos mistérios Amazônicos (O Eldorado)

El Dorado


Em busca dos antigos mistérios Amazônicos



Em entrevista exclusiva, o pesquisador e artista Roland Stevenson nos revela fatos surpreendentes sobre o mito do El Dorado. A descoberta de uma estrada inca em plena floresta brasileira, o saque sistemático de estrangeiros ao nosso patrimônio cultural e a comprovação da existência do lendário lago Parime, são apenas algumas das polêmicas desta matéria. Seria o ouro inca, proveniente do Brasil? Seria o El Dorado, mais do que uma lenda?

1) Sua nacionalidade é chilena. O que o motivou a mudar-se para o Brasil, em especial o Amazônas?
Desde pequeno, aos 10 anos de idade, tive a sorte de ser influenciado por colegas de bairro que praticavam excursionismo, e a poucos quilômetros de nossa casa em Santiago, eleva-se a Cordilheira dos Andes. Não obstante, no Chile faz muito frio, e não faltou ocasião em que perdido na neve das montanhas, sonhei com um clima tropical.



2) Como foi seu primeiro contato com o mito do El Dorado?
Foi um impacto incrível quando me deparei com os índios yanomani em 1979, observando que alguns deles possuíam rostos semelhantes aos quêchuas do Peru. Então me assaltou a idéia de que talvez a lenda do El Dorado tivesse fundamento histórico, e os yanomani alguma relação apesar dos 1400 km de distância do Império Inca.
3) Você alega que o lendário Lago Parime, que margeava o El Dorado e aparece nos mapas dos séculos XVI e XVII, existiu realmente. Essa tese já foi aceita pelos geólogos?
Sim, está absolutamente comprovado. Três geólogos brasileiros não tem a menor dúvida da sedimentação lacustre do solo do lavrado (planície). A área esteve submersa desde que a ruptura Graben do Tacutú se comunicava com o Atlântico, tendo começado a se extinguir
por volta de uns 700 anos atrás, provocado por um processo chamado epirogénese positivo, de elevação constante da superfície. Os nomes desses geólogos são Gert Woeltje do DNPM (Departamento Nacional de Pesquisas Minerais) do AM; Frederico Guimarães Cruz da SEMACT (Secretaria Especial do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia) de Presidente Figueiredo, AM; e Salomão Cruz, hoje Deputado Federal em Brasília, DF.





5) Além do lago Parime, você encontrou indícios de um antigo caminho pré-colombiano na região do Amazônas. Como foi essa descoberta?
Em 1977 comecei as pesquisas no Alto Rio Negro, onde fomos em busca das fortificações de pedras a que alguns escritores se referiam, a exemplo de Barbosa Rodrigues. Conseguimos localizá-las através de guias indígenas. Tratava-se de restos de muros de pedras que os nativos brasileiros não costumam utilizar, tornando-se para nós um grande mistério, pois seus vestígios achavam-se invariavelmente a cada 20 km, situados paralelamente à linha equatorial, cerca de uns 60 km. O enigma começou a se desvendar quando achamos próximo de uma delas o petroglifo de uma lhama, animal de carga dos povos andinos. Ao estudar as características deste camelídeo, reparamos que ele caminha somente 20 km por dia, negando-se a continuar além disso. Então, as fortificações eram pousadas de descanso dos viajantes, dispostas em função do rendimento das lhamas. Tratava-se evidentemente de um caminho extinto, apagado pela floresta, exceto os Tambos como chamam as pousadas no Peru. Em contato com diversas tribos da Bacia do Uaupés, ouvimos as lendas a respeito deste caminho, contada pelos velhos de boca em boca através das gerações. Curiosamente todos os grupos indígenas coincidiam com a mesma narrativa, especialmente entre os Dessana, Pirá-tapuya e Tukano, chamando-a de Nhamíni-wi. Explicavam ser um grande caminho que alcançava as montanhas dos Andes, ou a "casa da noite", onde obscurece o sol. Por ele transitavam numerosos "soldados", carregando pesadíssimas caixas contendo "insetos de ouro". Tais caixas não podiam ser abertas porque eram oferendas para que o sol não apagasse. Mas os índios desobedeceram abrindo-as, e o sol se apagou durante vários dias.
Toda essa história parece-nos a lembrança do último capítulo da existência do caminho, quando os espanhóis invadiram o Peru, exigindo o resgate de Atahualpa, representante do Sol. O carregamento de ouro transportado por Ruminháui não chegou ao destino justamente pelo assassinato de Atahualpa. Os insetos de ouro referidos na lenda, seriam simplesmente peças confeccionadas pelos ourives da época, que copiavam a natureza, como borboletas, besouros, aranhas, pássaros, macaquinhos, etc.
O destino do grande caminho para o ocidente nos Andes, já estava resolvido, mas qual era sua origem? De onde vinha procedente do leste? Os tukanos explicavam que ele iniciava-se no "lago branco", ou "lago de leite", axpekõ-dixtara, na língua deles.

6) Foi localizada alguma peça pré-colombiana que ajude a comprovar suas teses?
Creio que as principais peças encontradas que reforçam essa tese, são quatro armas incaicas, achadas em áreas de garimpo de Roraima, consistindo em pedras de 8 pontas e uma de 6, com um buraco no centro para colocar um cabo, afim de quebrar a cabeça do inimigo. Trata-se da borduna mais usual da civilização inca. Este achado muda a história da América, pois até agora foi um mistério a origem do ouro saqueado pelos espanhóis em 1532, no Peru. Apoderaram-se de 6 toneladas de peças auríferas só em Cajamarca e mais do dobro em Cusco. Na época não existiam minas significativas que justificassem tanto ouro no Peru. Inclusive esse foi um dos motivos que fez surgir a lenda do El Dorado.

7) Seria correto afirmar que o El Dorado foi um cemitério pré-colombiano, ou estaria mais para um depósito de ouro?
O El Dorado não era o cemitério, mas os arredores da ilha Maracá, que foi habitada por milhares de indígenas. A especulação de casas de ouro e muros de cristal ficou por conta dos expedicionários que precisavam de verbas para continuarem suas buscas. Contudo, os espanhóis e ingleses tinham fé, porque os indígenas da Guiana usavam adornos auríferos. A escolha da ilha como cemitério, é porque os indígenas tem a superstição de que os espíritos dos mortos não atravessavam a água, especialmente se os rios possuem cachoeiras e corredeiras que fazem barulho, sendo esse o conceito geral dos nativos da região.

8) Quais as fontes históricas que o levaram a desenvolver sua tese?
Todos os expedicionários do final do século XVI acabaram convergindo a Roraima em sua busca, na época considerada como parte da grande Guiana. As fontes históricas principais que indicam tratar-se do lendário lago Manoa ou Parime são, via Orenoco: Berrio (1584); pelo norte, rio Caroni: Berrio (1591), Maraver e Vera (1593) e Raleigh (1595); pelo leste, rio Essequibo: Keymis (1596); e finalmente pelo sul, rio Branco: Roe (1611). Fora isso, as coordenadas indicadas por Juan de Salas (1570) são perfeitas, pois no outro lado das serras que hoje chamamos de Pacaraima, onde nasce o rio Caroni, só existe o lavrado
de Roraima.
9) Como tem sido a recepção da população de Manaus e dos meios de comunicação de sua cidade em relação a pesquisa do El Dorado?
Decepcionante, tomado com arraigado preconceito. Quem procura o El Dorado é louco. Não querem saber se existem ou não fundamentos históricos. E na minha profissão como artista plástico, acham tratar-se de uma tática publicitária para vender quadros. A culpa disso em parte se deve a que alguns amazonenses pagam para que se divulgue serem eles os melhores do mundo. Então, se aparece um atrevido dizendo que descobriu Manoa, já pode se imaginar o resultado. Porém, olhando o assunto com visão profunda, parece tudo formar parte de uma história romântica, pois se desde o começo todos concordassem,
perderia a graça...

10) E como tem sido a recepção do meio científico e acadêmico às suas descobertas?
Quando o arqueólogo Gregory Deyermenjian fez as publicações nos EUA sobre a descoberta do lago, tivemos a tremenda surpresa de que existia uma campanha internacional contra nossas pesquisas, pois esses jornais foram ameaçados e intimados a não apoiar nosso trabalho pela Royal Geographic Society, da Inglaterra...inclusive temos o fax enviado pelo diretor Mr. John Hemming..., sob pena de não mais lhes colaborar com matérias, além de desprestigiá-los. Falava barbaridades caluniosas a meu respeito. Deste modo, compreendemos a reação contraditória dos jornais brasileiros, que negavam-se a divulgar
a descoberta.
O caso remonta a 1987, quando anunciei a possível descoberta do Manoa, indicando que provavelmente o lendário El Dorado se localizaria a ocidente do lago, conforme os mapas de Hondius e Hariot, onde hoje se encontra a ilha Maracá. Um mês depois de meu anúncio, a ilha Maracá foi interditada para pesquisas do "meio ambiente" pela Royal Geographic Society, em convênio com o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). O curioso era que somente os ingleses podiam entrar na ilha. Aos brasileiros era permitido pesquisar somente no lavrado, a partir da ponta da ilha. Existiam sim, "fiscais" brasileiros...era ridículo o controle com tantos britânicos...mais de 200...e umas poucas canoas para todos, além de que, para chegar ao centro da ilha, precisa-se uma expedição de 5 dias com acesso somente por navegação dos dois braços do rio Uraricuera.
Depois de investigar o movimento da ilha e escutar o próprio vigia que fazia o policiamento fluvial de Maracá, conhecido como "Amazônas". Seu nome é Walquimar Felix de Souza, que relatou que os ingleses tiravam toneladas e mais toneladas de material hermeticamente embalado, enviado de avião para a Guiana inglesa e daí para Inglaterra. Existem testemunhas também dos numerosos caixotes que sempre aguardavam embarque no aeroporto de Boa Vista...inclusive quando houve intenções de inspecioná-las, até o Itamaratí se opôs ao exame.
Indagando ao vigia da ilha sobre o conteúdo das caixas, ele expressou desconhecê-lo, porém calculava que seria ouro pelo excessivo peso delas, pois precisavam numerosas pessoas para carregá-las e tendo muito cuidado no transporte porque eram coisas delicadas. O INPA alegou depois que se tratava de terra para análise na Inglaterra. Mas tantas toneladas durante um ano? E ainda delicada? Aliás, o resultado dessas análises nunca retornou ao Brasil, como também nenhum estudo considerável e útil, exceto alguns folders insignificantes que justificassem os Cz$ 14 milhões (dinheiro de março de 1987) gastos no projeto só pelo Governo Federal, segundo explicava o diretor do INPA, cientista Herbert Schubartem, em 1988.
O INPA também esclareceu que as cargas seriam animais empalhados. Mas tantas toneladas assim? Então se trataria da maior matança do século, fugindo a norma da preservação. Igualmente continham herbários dissecados e insetos, mas nunca vi insetos e folhas tão pesados!
Ante tanta ingenuidade, decidi denunciar os ingleses nos jornais, especialmente pelo fato de que seu diretor John Hemming não era um naturalista e sim um historiador.
Ele escreveu um livro, "Em busca do El Dorado", onde na página 203 descreve nitidamente que numa ilha do lago eram enterrados os defuntos com todos seus pertences auríferos. No ato que fiz a denúncia, revelando tudo nos jornais, os 200 ingleses desapareceram do mapa, abandonando o Brasil, talvez pensando que as autoridades tomariam alguma providência, mas não aconteceu absolutamente nada. E nem eu fui processado por calúnia, conforme se chegou a divulgar. Foi fácil livrar-se de um louco visionário...
Futuramente, daqui a algumas gerações, quando os museus da Inglaterra mostrarem o que foi levado da ilha, constará que John Hemming foi o descobridor material dos objetos, mas não o espiritual, porque cientificamente eu fui o primeiro a anunciar a descoberta, e se alguém registrar estes acontecimentos, os ingleses ficarão como estratégicos huaqueros (ladrões de túmulos), o que aliás, já eram antes disso, como aconteceu no Egito, Gibraltar, Canadá, Peru...

11) Então, toda a imprensa estrangeira foi contra suas descobertas? Não houve reação favorável?
Houve reações muito boas, sim, especialmente se não existe o preconceito. Qualquer protesto ou contestação surge somente pela falta de conhecimento. Desde modo, quando o jornal The Herald (Flórida, EUA) dedicou seu suplemento dominical às pesquisas, o arqueólogo consultado expressou que as lhamas não poderiam sobreviver na Amazônia para vir buscar os minérios pelo caminho pré-colombiano. Contrariando sua contestação, existe em Manaus um criador de lhamas na fazenda São Salvador, km 16 da BR 010. Elas estão perfeitamente aclimatadas, e todos os anos são expostas nas exposições agropecuárias.
Em 1988 fiz uma exposição de arte e pesquisas em Viña del Mar, no Chile, tendo uma excelente acolhida pelos jovens, que achei muito abertos às novas propostas, tanto que o principal jornal do Chile, El Mercurio, dedicou sua revista de Domingo às descobertas. O Brasil não fica por menos na classe jovem, pois recentemente a Universidade do Amazônas fez uma exposição sobre meu trabalho, tendo uma excelente receptividade, embora não faltou algum protesto pelo fato de eu não possuir um diploma acadêmico. Para equilibrar essa falha, apresentei um painel com minhas distinções em que constam três prêmios em concursos mundiais e dois nacionais, além dos regionais. Aliás, sou o único artista de Manaus que possui essa qualificação.
12) Você poderia citar alguns dos profissionais, nacionais e estrangeiros, que já trabalharam na sua equipe?
Os profissionais que posso citar foram, desde o começo, o missionário Casimiro Beksta, professor de antropologia aplicada do CENESC (Centro de Estudos do Comportamento Humano) de Manaus, a quem cito com muito carinho porque teve a paciência de me orientar todos esses anos dos problemas antropológicos da Amazônia.
Depois a arqueóloga carioca Arminda Souza, na época funcionária do SPHAN (Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Porém, influenciada pelo preconceito dos "especialistas" de Manaus, sobre minhas pesquisas não convencionais, especialmente na busca do "ilusório" lago do El Dorado, preferiu ficar de fora, perdendo a chance de figurar para a posteridade histórica do Brasil, como participante da grande descoberta de Manoa.
Também desde o começo, vinha me orientando o geólogo Frederico Guimarães Cruz, na época funcionário do DNPM de Manaus. Já em 1986 trocávamos opiniões sobre uma grande mancha escura existente em Roraima, detectada pelos mosaicos aéreos do RADAMBRASIL. Pelo que indagamos se trataria dos vestígios de um lago. Frederico frisou que para isso deveria haver marcas d'água nas rochas. Assim, nos primeiros dias de janeiro de 87, lancei-me a investigar. Tendo como resultado o já citado encontro com os sinais do nível d'água do grande lago, embora isto achava-se na terra mesmo e não nas rochas. O Dr. Fredi é um homem de caráter e personalidade, jamais se importou com o preconceito do povo, tanto que me honrou fazendo o prefácio de meu livro. Em função disso, quando o Brasil conseguir romper a barreira do desconhecimento, ele será lembrado como participante da descoberta desse lago extinto, o lendário Manoa.
Em 1987, entrou o geólogo roraimense Salomão Cruz, irmão do governador Getúlio Cruz, na época. O Dr. Salomão era diretor da CODESAIMA, tornando-se um ativo colaborador, fornecendo-nos uma toyota da empresa para pesquisas. Seus conhecimentos da região ajudou-nos significativamente ao afirmar de forma categórica a constituição lacustre do lavrado, não tendo dúvidas de que a área esteve submersa. Embora não havia conhecimento de quantos lagos se trataria. Coube a nós, com altímetro na mão, percorrer centenas de km, seguindo as marcas do nível da água até a Guiana, constatando que pertencia somente a um lago, independente das diferenças estruturais do solo.
A seguir foi a vez do geólogo Gert Woeltye, na época professor da FUA (Fundação Universidade do Amazônas), assim como funcionário do DNPM de Manaus. Quem percorreu o lavrado de Roraima junto com numerosos alunos, fazendo aula in-loco sobre a extinção do lago. Tivemos a honra de que todos seus dados técnicos sobre o lago, foram inseridos em nosso livro.
O último profissional participante foi o arqueólogo norte-americano Gregory Deyermenjian, que nos acompanhou numa expedição a Roraima em 1997, constatando os problemas geológicos e históricos de Roraima. No retorno aos EUA, fez uma palestra no centro principal do Explorer Club em Nova York, e Expedition News de Connecticut.
13) Além de sua equipe, existe alguma outra interessada na região, seja ela nacional
ou não?

Não existe equipes interessadas, exceto pessoas independentes que leram meu livro, assim vieram me acompanhar nas expedições dois norte-americanos, um alemão, um canadense, dois italianos, um espanhol e uma equipe de TV chilena, todos com profissões diferentes, desde cineastas até aventureiros. Ano passado houve muito interesse da Discovery Channel sediada na Flórida, porém o propósito "murchou", provavelmente porque devem ter pedido informações a Royal Geographic Society, que são os patronos internacionais da Discovery.
Em 1994 veio a TV nacional do Chile, do programa "El Mirador", em função da publicação do jornal Folha de São Paulo (27/05/93) que lançou uma reportagem de um louco chileno...eu...que procurava o El Dorado na Amazônia, frisando que a comunidade científica de Manaus (o INPA), ironizava meu trabalho. Assim, a TV chilena veio correndo a filmar seu patrício que buscava o "sonho do El Dorado". No começo fiquei animado porque seria a oportunidade de mostrar fundamento histórico no assunto. Mas foi grande a minha decepção ao ver que eles desejavam mesmo o SONHO, negando-se a filmar qualquer prova que representasse a realidade. Assim, descartaram as marcas d'água do lago nas serras, como também as centenas de petroglifos da ilha Maracá. Por minha insistência, entrevistaram o geólogo Salomão Cruz em Boa Vista, que deu numerosos argumentos científicos sobre a existência do lago, mas isso tudo foi eliminado.
Outra tentativa de filmar os vestígios do lago foi com a TV Amazônas Canal 5, em 1993. Consegui convencer de sua realidade ao diretor Sr. Felipe Daou. Porém quando chegamos na área, o câmera da equipe se negou a filmar alegando que aquilo não prestava para TV, revelando todo o preconceito que existia sobre mim. Para piorar a situação, a malária estava manifestando-se no meu organismo. Fiquei sem ânimo para discutir. Portanto, perdemos a viagem, as despesas com hotel, etc...e o que foi pior, fiquei desprestigiado perante o diretor da TV. Estava "confirmado" que eu "sonhava".
14) Quais as principais dificuldades que tem encontrado para a realização de suas expedições?
O preconceito e a falta de dinheiro. Felizmente sou um bom pintor, e os lucros tenho investido em pesquisas. Assim, durante 20 anos financiei minhas próprias expedições. Nunca procurei patrocínio, pois quem iria financiar a busca de uma "fantasia"? Porém, com as dificuldades econômicas que o país está passando, já não posso mais me dar ao luxo de pagar viagens, de modo que esta última expedição de fevereiro foi financiada por um norte-americano, e a anterior por dois italianos e um canadense.


15) Isso vem de encontro a minha próxima pergunta. Você é um excelente pintor, então suas obras ajudam de certa forma seu trabalho de pesquisa...
Sim! A arte tem me ajudado enormemente nas pesquisas. Sem ela jamais teria feito essas descobertas. Tudo começou com os yanomami, quando desenhava centenas de rostos, reparando que os antropólogos estavam errados ao defini-los como uma raça única, geneticamente "pura", em circunstâncias que possuem quatro tipos humanos diferentes e integrados em épocas distintas, se estudarmos os protótipos que colonizaram a América.
A verdade é que a análise anatômica das feições indígenas é um campo inexplorado pela antropologia, pois a classificação dos grupos tribais no Brasil baseia-se na glotologia (língua). Porém os silvícolas são nômades e adotam as línguas alheias da região onde se mudam, alguns até várias vezes como aconteceu com os baníwas do rio Içana. Outro método de distinção é a cultura, material ou espiritual, mas estas, do mesmo modo que a língua, podem ser adotadas, impostas ou perdidas. A terceira fórmula é a mais perfeita, que consiste nos teste de DNA, porém nada é infalível, pois para ser satisfatória é necessário testar em laboratório milhares de indivíduos e ainda podem orientar errado se trata-se de migrações onde não nasceram.

16) Em 1994, você publicou o livro "Uma Luz nos Mistérios Amazônicos", atualmente esgotado. Fale-nos mais sobre esse trabalho.
O livro foi o prêmio de publicação no concurso de História da SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de Manaus), ganho em 1988. Porém, pensando na posteridade, é bom que se conheça a verdade, pois a comissão julgadora me deu o segundo lugar inicialmente, porque a obra fugia da temática histórica, incluindo geologia e antropologia. Mas pergunto, como ia explicar a existência do lago sem os dados geológicos? Ou como ia esclarecer a origem dos nativos amazônicos sem informações étnicas?
O leitor precisa saber que todos os aventureiros, pesquisadores, cronistas, etc, que escreveram sobre o Amazônas, basearam-se numa rápida expedição de dias, semanas ou meses, falando muito e estudando pouco. Assim, nossas investigações com mais de 20 anos, devem estar bem perto da verdade.

17) Em 1997, você fundou o "Parime Expedition - Centro de Pesquisas Etno-históricas".
Quais os objetivos dessa instituição?

A "Parime Expedition" ficou parada quando percebi que a instituição viraria um órgão turístico, que não é a modalidade que me interessa. Para essa finalidade, um dos norte-americanos que me acompanhou na última expedição, Mark DeMaraville, que trabalha com turismo, começará a trazer na próxima temporada, pacotes turísticos para grupos que desejem conhecer onde ficava o lendário lago do El Dorado. Assim, os norte-americanos ficarão conhecendo a realidade histórica antes que os brasileiros, lamentavelmente. O mesmo acontecerá com a segunda edição do meu livro, pois recentemente tenho visitado numerosas empresas e todas se manifestaram impossibilitadas de patrocinar uma nova impressão, exceto se fosse sobre o "Boi Bumbá", que aliás já fizeram na minha frente duas grandes obras. Não nego a beleza das festas, mas não houve um critério que preservasse a cultura original indígena.
O norte-americano DeMaraville...que também é bibliotecário de Massachusett... opinou que nosso livro "Uma Luz nos Mistérios Amazônicos" é a melhor obra já feita no mundo sobre o
El Dorado. Respeito muito sua opinião como bibliotecário, mas só posso lamentar que não vai ser impresso no Brasil.

18) Uma última pergunta. Você foi um dos precursores no Brasil, da técnica de investigação conhecida como 'morfologia somática". Do que consiste essa técnica?
Pratico desenho da figura humana desde que tinha 4 anos de idade, portanto fazem 63 anos, e comecei profissionalmente quando tinha 12, em 1947, fazendo rostos publicitários para a Fonck Propaganda no Chile. O que desejo transmitir é que uma vida inteira retratando feições, me possibilitam enxergar coisas que uma mente comum é incapaz de ver. Por exemplo, numa caveira, detecto toda a anatomia superficial. Do mesmo modo, o rosto de um indígena me conta todo seu passado, as miscigenações, os climas onde morou, as migrações, etc. Se isso for aliado ao estudo dos povos que habitaram o planeta, resulta fácil entender suas ligações.
Quando há mais de 20 anos comecei minhas pesquisas antropológicas, detectei logo que os primeiros colonizadores da América eram negros, assunto que foi tomado como um disparate. Recentemente, os arqueólogos de São Paulo admitem agora como se fosse descoberto por eles. Minha tese dos paleoíndios serem negróides foi apresentada publicamente no concurso de História da SUFRAMA em 1988.
Muitas pessoas me perguntam porque não tiro um diploma como antropólogo, mas a minha formação vai além disso, não posso recuar numa qualificação superada. Não existe diploma para 60 anos de prática.


sexta-feira, 27 de julho de 2012

As Crônicas de Akakor (Parte II) as moradias subterrêneas


As Crônicas de Akakor  Parte II 


AS MORADIAS SUBTERRÂNEAS - Grande era o conhecimento dos Primitivos Mestres e grande era a sua sabedoria. A sua visão alcançou as colinas, planícies, florestas, mares e vales. Eram seres milagrosos. Conheciam o futuro. A verdade fora-lhes revelada. Perspicazes, eram capazes de grandes decisões. Ergueram Akanis, Akakor e Akahim. Na verdade, os seus trabalhos eram poderosos, como o eram os métodos que usavam para os criar: a maneira como determinaram os quatro cantos do universo e os seus quatro lados. Os senhores do cosmo, seres do céu e da terra, criaram quatro cantos e quatro lados do universo.
Akakor agora está em ruínas. A grande entrada de pedra está destruída. Cipós crescem no Grande Templo do Sol.
Por minha ordem, e de acordo com o Supremo Conselho e os sacerdotes, os guerreiros Ugha Mongulala destruíram a nossa capital há três anos. A cidade teria traído a nossa presença perante os Bárbaros Brancos e, assim, nós abandonamos Akakor. O meu povo fugiu para os abrigos subterrâneos.
A última dádiva dos Deuses. Temos treze cidades, profundamente ocultas nas montanhas que se chamam Andes.
O seu plano corresponde à constelação de Schwerta, a pátria dos Antigos Pais. A Baixa Akakor fica no centro. A cidade fica assentada numa caverna gigantesca feita pelo homem. As casas, ordenadas em círculo e contornadas por uma muralha decorativa, têm no centro o Grande Templo do Sol. Tal como na parte superior de Akakor, a cidade está dividida por duas ruas em cruz, que correspondem aos quatro cantos e aos quatro lados do universo. Todas as estradas lhes são paralelas. O maior edifício é o Grande Templo do Sol, com torres que sobem além dos edifícios onde estão instalados os sacerdotes e os seus criados, do palácio do príncipe, das instalações dos guerreiros e das mais modestas casas do povo. No interior do templo há doze entradas para os túneis que ligam a Baixa Akakor com outras cidades subterrâneas. Têm paredes inclinadas e um teto liso. Os túneis são suficientemente largos para comportar cinco homens lado a lado. Qualquer das outras cidades fica a grande distância de Akakor.

Doze das cidades – Akakor, Budo, Kish, Boda, Gudi, Tanum, Sanga, Rino, Kos, Amam, Tata e Sikon – são iluminadas artificialmente. A luz altera-se de acordo com o brilho do Sol. Só Mu, a décima terceira e a menor das cidades, tem altas colunas, que atingem a superfície. Um enorme espelho de prata espalha a luz do Sol sobre toda a cidade. Todas as cidades subterrâneas são cruzadas por canais que trazem água das montanhas. Pequenos afluentes fornecem edifícios individuais e casas. As entradas na superfície estão cuidadosamente disfarçadas. Em caso de emergência, os subterrâneos podem ser desligados do mundo exterior por grandes rochas móveis que servem de portões.

Nada sabemos da construção da Baixa Akakor. A sua história perdeu-se na escuridão do mais remoto passado. Mesmo os soldados alemães que viveram com o meu povo não conseguiram esclarecer este mistério. Durante anos mediram os subterrâneos dos Deuses, exploraram o sistema de túneis e procuraram o sistema de respiro, mas sem terem o mínimo êxito. Os nossos Primitivos Mestres construíram as habitações subterrâneas de acordo com os seus próprios planos e leis, que nos são desconhecidos.
Daqui governavam o seu vasto império, um império de 362.000.000 de indivíduos, tal como se afirma na Crônica de Akakor:

E os Deuses governaram Akakor. Governaram sobre os homens e sobre a Terra. Tinham navios mais rápidos que o vôo das aves, navios que atingiam os pontos a que se destinavam sem velas nem remos, tanto de dia como de noite. Tinham pedras mágicas por onde viam a distância, de modo que podiam ver cidades, rios, colinas, e lagos. Tudo quanto acontecia na Terra e no Céu se refletiam nessas pedras. Mas as habitações subterrâneas eram as mais maravilhosas. E os Deuses deram-nas aos seus Servos Escolhidos como última dádiva. Para os Primitivos Mestres são do mesmo sangue e têm o mesmo pai.

Durante milhares de anos, as habitações subterrâneas protegeram os Ugha Mongulala dos seus inimigos e suportaram duas catástrofes. Os ataques das tribos selvagens não tinham êxito contra os seus portões. No interior, os últimos homens da minha raça esperam a vinda dos Bárbaros Brancos, que avançam pelo Grande Rio, num número infinito, tal como formigas. Os nossos sacerdotes profetizaram que em última análise descobrirão Akakor e que nela encontrarão a sua própria imagem. Então o circulo fechar-se-á.

II - A HORA ZERO



10.481 A. C. – 10.468 A. C.



O velho épico hindu Mahabharata conta como os Deuses e os Titãs lutaram para ter o domínio da Terra. De acordo com Platão, o lendário império da Atlântida atingiu o seu ponto mais elevado neste período. O cientista germano-boliviano Posnansky acredita na existência de um enorme império na região da cidade boliviana, agora em ruínas, de Tiahuanaco. Segundo a opinião de alguns historiadores e etnólogos, as principais divisões raciais do Homo sapiens da última época glacial desenvolveram-se cerca de 13.000 a. C.: Mongóis na Ásia, Negros na África e Caucasianos na Europa. As principais fixações no continente europeu encontram-se nas regiões costeiras. As descobertas arqueológicas de Altamira e da Amazônia confirmam pela primeira vez a existência de humanos no continente sul-americano.

A PARTIDA DOS PRIMITIVOS MESTRES



A história do meu povo, registrada na Crônica de Akakor, aproxima-se do seu fim. Os sacerdotes afirmam que dentro em pouco se passará o tempo; pouco mais temos que alguns meses. Então o destino dos Ugha Mongulala será cumprido. E quando vejo o desespero e a miséria do meu povo não posso deixar de acreditar nestas profecias. Os Bárbaros Brancos estão penetrando cada vez mais no nosso território. Vieram do leste e do oeste como um fogo assoprado por um forte vento e espalharam um manto de escuridão sobre o país, para o poderem dominar. Mas se os Bárbaros Brancos pensassem, chegariam à conclusão de que não podemos apoderar-nos do que não nos pertence. Então compreenderiam que os Deuses nos deram uma grande mansão para a partilharmos e a gozarmos. Mas os Bárbaros Brancos querem ter tudo só para si. Os seus corações são duros, não se comovem, mesmo quando realizam as mais terríveis ações. Assim, nós, os Índios, temos de nos afastar, e ter esperança de que os nossos Primitivos Mestres possam um dia voltar, tal como está escrito , com boas palavras e numa escrita clara:

No dia em que os Deuses abandonaram a Terra chamaram Ina. Deixaram a sua herança ao servo de maior confiança: “Ina, vamo-nos embora para os nossos lares. Ensinamos-te sabedoria e demos-te bons conselhos. Voltamos para junto dos que são iguais a nós. Vamos para casa. O nosso trabalho está feito. Os nossos dias de viver aqui, acabados. Conserva-nos na tua memória e não nos esqueças. Porque somos irmãos do mesmo sangue e temos o mesmo pai. Voltaremos quando estiverdes ameaçados. Mas agora fique com as Tribos Escolhidas. Levem-nas para as moradias subterrâneas, para as proteger da catástrofe que se aproxima”. Estas foram as suas palavras. Isso foi o que eles disseram quando se despediram. E Ina viu como os navios os levavam para o céu, com fogo e trovões. Desapareceram por cima das montanhas de Akakor, e só Ina os viu partir. Mas os Deuses deixaram atrás de si um rastro de sabedoria e bom senso. Eram considerados e venerados como se fossem sagrados. Eram um sinal dos Antigos Pais. E Ina reuniu os mais velhos do seu povo num Conselho e disseram-lhes quais tinham sido as últimas instruções dos Deuses. E ordenou uma nova contagem do tempo para comemorar a partida dos Primitivos Mestres. Esta é a história escrita dos Servos Escolhidos, A Crônica de Akakor.

Na hora zero (10.481 a. C., segundo o calendário dos Bárbaros Brancos) os Deuses deixaram a Terra. Deram o sinal de um novo capítulo na história do meu povo. Mas nessa época nem sequer Ina, seu mais leal servo e primeiro príncipe dos Ugha Mongulala, previa os terríveis acontecimentos que se sucederiam. O Povo Escolhido estava angustiado com a partida dos Primitivos Mestres e atormentado pelo desalento e pela angústia.

Só a imagem dos Deuses ficou nos corações dos Servos Escolhidos. Com olhos ardentes, perscrutavam o céu, mas os navios dourados não voltavam. Os céus mantinham-se vazios – nem a mínima brisa, nem qualquer som. O céu conservava-se desabitado.

A LINGUAGEM DOS DEUSES



Na língua dos Bárbaros Brancos, Ugha significa “aliado”, “partidário”; Mongu significa “escolhido”, “exaltado”, e Lala significa “tribos”. Os Ugha Mongulala são as Tribos Escolhidas Aliadas. Uma nova era iniciou-se para eles depois da partida dos Primitivos Mestres. Os Deuses superiores já não governam o seu império, cujos limites ficavam a muitas luas de distância. Os Ugha Mongulala governavam entre dois oceanos, ao longo do Grande Rio, até as baixas colinas do norte, e mais além, na extensão das planícies do sul. Os 2.000.000 que compreendem as Tribos Escolhidas governaram um império de 362.000.000 de pessoas, desde que os Primitivos Mestres dominaram as outras tribos no decorrer dos séculos. Os Ugha Mongulala governaram vinte e seis cidades, muitas fortificações poderosas e as habitações subterrâneas dos Deuses. Só três complexos de templos – Salazere, Manoa e Tiahuanaco – ficavam de fora da sua jurisdição, por explícitas instruções dos Antigos Pais. Ina, o primeiro príncipe dos Ugha Mongulala, tinha a seu cargo enormes tarefas.

Conheço poucos pormenores acerca do período que se seguiu à partida dos Primitivos Mestres. A primeira Grande Catástrofe estende-se como um véu sobre os acontecimentos dos primeiros treze anos da história do meu povo. De acordo com os sacerdotes, Ina governou o maior império que jamais existiu. Este era chefiado pelos Ugha Mongulala, que faziam com que as suas leis fossem obedecidas. Os seus guerreiros protegiam as fronteiras dos ataques das tribos selvagens. 362.000.000 de aliados prestavam-lhes vassalagem, mas depois da primeira Grande Catástrofe revoltaram-se contra as leis dos Ugha Mongulala. Rejeitaram os legados dos Deuses e dentro em pouco esqueciam a sua língua e a sua escrita. Degeneraram.

O quíchua, como os Bárbaros Brancos chamam à nossa língua, consta de simples e boas palavras, que são suficientes para descrever todos os mistérios da natureza. Nem sequer os Incas conhecem a escrita dos Deuses. Há mil e quatrocentos símbolos, que têm diferentes significados, segundo a sua seqüência. Os sinais mais importantes traduzem a vida e a morte, representadas pelo pão e pela água. Todos os inícios da crônica começam e acabam com estes símbolos. Depois da chegada dos soldados alemães, em 1942, de acordo com o calendário dos Bárbaros Brancos, os sacerdotes começaram a registrar os acontecimentos também na escrita das Tribos Aliadas. Língua, serviço da comunidade, veneração pelas pessoas idosas e respeito pelo príncipe são as coisas mais importantes documentadas anteriormente a primeira Grande Catástrofe. São evidência de fato, nos dez mil anos da sua história, o meu povo ter só uma finalidade: preservar o legado dos Primitivos Mestres.


SINAIS OMINOSOS NO CÉU - Houve estranhos sinais no céu. A penumbra cobriu a face da Terra. O Sol ainda brilhava, mas havia uma névoa cinzenta, grande e intensa, que começava a esconder a luz do dia. Estranhos sinais viam-se no céu. As estrelas eram como tristes pedras. Uma neblina venenosa cobria as colinas. Um fogo malcheiroso pendurava-se nas árvores. Um Sol vermelho. Um caminho cruzado sobrepunha-se. Negro, vermelho, todos os quatro cantos do mundo estavam vermelhos. A primeira Grande Catástrofe alterou a vida do meu povo e a face do mundo. Ninguém pode imaginar o que aconteceu naquela época, treze anos depois da partida dos Primitivos Mestres. A catástrofe foi enorme, e a nossa crônica relata-a com terror: Os Servos Escolhidos ficaram temerosos e aterrorizados. Já não viam o Sol, a Lua ou as estrelas. A confusão e a escuridão reinavam por toda à parte. Estranhas imagens passavam sobre as suas cabeças. Do céu caia resina, e ao entardecer os homens desesperavam em busca de comida. Matavam os seus próprios irmãos. Esqueceram o testamento dos Deuses. Começara a era do sangue.

O que aconteceu nesta época, quando os Deuses nos deixaram? Quem foi o responsável que fez regredir o meu povo ao abatimento durante seis mil anos? Uma vez mais, os nossos sacerdotes podem interpretar os acontecimentos devastadores. Dizem que no período antes da hora zero existiu também outra nação de deuses que eram hostis aos nossos Primitivos Mestres. De acordo com as imagens do Grande Templo do Sol de Akakor, as estranhas criaturas pareciam-se com humanos. Tinham muito cabelo e uma pele avermelhada. Tal como os homens, tinham cinco dedos nas mãos e nos pés. Mas dos ombros saiam-lhes cabeças de serpentes, tigres, falcões e outros animais. Os nossos sacerdotes dizem que estes deuses também governaram um enorme império. Também possuíam o conhecimento que os tornava superiores aos homens e iguais aos Primitivos Mestres. As duas raças de deuses que estão representadas nas imagens do Grande Templo do Sol de Akakor começaram a guerrear-se. Queimaram o mundo com calor solar, e cada um tentou tirar ao outro o seu poderio. Iniciou-se uma tremenda guerra entre os planetas e esta guerra levou o meu povo à perdição. No entanto, pela primeira vez, a providência dos Deuses salvou os Ugha Mongulala . Recordando as últimas palavras dos nossos Primeiros Mestres, que anunciavam a catástrofe, Ina comandou a retirada para as moradias subterrâneas.

Reuniram-se os mais velhos do povo. Obedeceram às ordens de Ina. “Como poderemos nos proteger? Os sinais estão cheios de ameaças”, diziam eles. “Vamos seguir as ordens dos Deuses e albergar-nos nos abrigos subterrâneos. As nossas idéias não serão suficientes para toda uma nação? Nenhum de nós deve faltar”. Foi assim que eles falaram. Foi assim que eles decidiram. E a multidão reuniu-se. Atravessaram as águas. Desceram as ravinas e cruzaram-nas. Chegaram ao fim, onde as quatro estradas se cruzam, na moradia dos Primitivos Mestres, protegidos no interior das montanhas.

Isto é uma história contada pela Crônica de Akakor. E assim se cumpriu a ordem de Ina. Com confiança na promessa dos Primitivos Mestres, o povo de Ugha Mongulala mudou-se para a Baixa Akakor, para se proteger da iminente catástrofe. Aqui ficaram eles até a Terra se aquietar, tal como uma ave se esconde atrás de uma rocha quando a tempestade se aproxima. Os Ugha Mongulala estavam salvos da catástrofe porque haviam confiado nos Antigos Pais.

A PRIMEIRA GRANDE CATÁSTROFE



O ano 13 (10.468 a. C., segundo o calendário dos Bárbaros Brancos) é um ano fatídico na história do meu povo. Depois de se terem refugiado nos subterrâneos, a Terra foi atingida pela maior catástrofe de que há memória. Excedeu mesmo a segunda Grande Catástrofe, seis mil anos mais tarde, quando as águas do Grande Rio inundaram a região. A primeira Grande Catástrofe destruiu o império dos nossos Primitivos Mestres e matou milhares de pessoas.

Isto é o relato de como os homens morreram. O que aconteceu à Terra? Quem a fez tremer? Quem fez dançar as estrelas? Quem fez as águas brotarem das rochas? Numerosos eram os flagelos que atingiam os homem. Estava sujeito a várias calamidades. Estava terrivelmente frio e um vento gelado soprava sobre a Terra. Estava excessivamente quente e a própria respiração das pessoas queimava-as. Homens e animais fugiam em pânico. Desesperados, corriam de um lado para o outro. Tentavam trepar nas árvores, mas as árvores repeliam-nos. Tentavam alcançar as cavernas. Contudo, estas abatim-se e sepultavam-nos. O chão tornava-se teto, e o teto desaparecia nas profundidades. O som e a fúria dos Deuses não se acalmavam. Até os abrigos subterrâneos começaram a tremer.

A primeira referência da forma do continente antes da primeira Grande Catástrofe reporta-se à partida dos Primitivos Mestres. Depois desse tempo, diferia consideravelmente da sua forma atual. Era muito mais fria e a chuva caía regularmente. Os períodos de seca e de chuva eram mais distintos uns dos outros. Ainda não havia grandes florestas. O Grande Rio era menor e desaguava em ambos os oceanos. Os afluentes ligavam-no ao lago gigante, onde os Deuses erigiram o templo de Tiahuanaco, na costa sul.


A primeira Grande Catástrofe remodelou a face da Terra. O curso dos rios foi alterado e a altura das montanhas e a força do Sol modificaram-se. Os continentes ficaram inundados. As águas do grande Lago voltaram ao oceano. O Grande Rio foi cortado por uma nova montanha e agora corre apressadamente para leste. Enormes florestas surgiram nas suas margens. Um calor úmido espalhou-se pelas regiões orientais do império. A oeste, onde se ergueram montanhas gigantescas, as pessoas gelavam no tremendo frio das altitudes. A Grande Catástrofe causara tremendas devastações, tal como fora predito pelos Primitivos Mestres.


E a mesma coisa acontecerá na futura catástrofe, que os nossos sacerdotes calcularam de acordo com a rota das estrelas. Porque a história da humanidade cumpre-se segundo rotas preestabelecidas: tudo se repete, tudo volta num ciclo que dura seis mil anos. Os nossos Primitivos Mestres ensinaram-nos esta lei. Passaram-se seis mil anos desde a última Grande Catástrofe e seis mil anos se passaram desde que os nossos Primitivos Mestres nos deixaram pela segunda vez. Mais uma vez apareceram nos céus sinais ominosos. Os animais fogem em pânico. Surgem guerras. As leis são desrespeitadas. Enquanto os Bárbaros Brancos, por pura arrogância, destroem o elo entre a natureza e o homem, aproxima-se o cumprimento do destinado. Eles sabem-no e esperam com resignação. Porque acreditam no legado dos seus Primitivos Mestres. Com a imagem dos Deuses no coração, seguem-lhes as pegadas. Seguem os que são do mesmo sangue e tem o mesmo pai.


III- A ERA DA ESCURIDÃO



10.468 A. C. – 3.166 A. C.


O cientista germano-boliviano Posnansky calcula que Tiahuanaco foi destruída cerca de 10.000 a. C. Os geólogos referem-se às extraordinárias modificações de clima que podem ter sido causadas pela deslocação do eixo da Terra. A Época Neolítica, que começou por volta de 5.000 a. C., viu importantes inovações culturais, acrescentadas por transformações econômicas de longo alcance: a transição para a agricultura e para os sistemas econômicos produtivos. O homem neolítico cultivava cereais selvagens e criava carneiros, cabras e porcos. Instalaram-se grandes famílias em aldeias e mais tarde em cidades fortificadas. Entre 8.000 e 6.000 a. C., Jericó foi considerada como estágio preliminar das altas civilizações urbanas, embora os egiptólogos suspeitem de uma cultura mais antiga no vale do Nilo. Descobertas arqueológicas em Eridu e Uruk referem-se aos primeiros edifícios sagrados. Encontraram-se as primitivas placas de argila. Palavras e sinais fonéticos substituíram a primitiva escrita pictórica. Em todas as civilizações se observa um considerável cuidado com os mortos. Vários dilúvios e catastróficas erupções vulcânicas, provavelmente cerca de 3.000 a. C., são descritos na Bíblia como o Grande Dilúvio. A América do Sul continua a ser colonizada por vagas de imigrantes vindos da Ásia.

O COLAPSO DO IMPÉRIO



Verdadeiramente, os Bárbaros Brancos são um povo poderoso. Governam o céu e a terra e são ao mesmo tempo ave, verme e cavalo. Pensam que estão vendo a luz, mas, no entanto, vivem na escuridão e no mal. E o pior é que negam o seu próprio Deus e lutam eles próprios serem deuses e para nos fazer acreditar que governam o mundo. Mas os Deuses são ainda maiores e mais poderosos que todos os Bárbaros Brancos juntos. Ainda são eles que decidem quem, entre nós, deve morrer e quando. Tranqüilidade, sol, água e fogo servem-nos primeiro. Porque os Deuses não permitem que descubram os seus segredos. Os nossos sacerdotes dizem que farão um julgamento que libertará os Bárbaros Brancos do fardo dos seus erros. Cairá uma chuva contínua que, lavando, tirará toda a escuridão dos seus corações. As águas subirão cada vez mais e lavarão a maldade e a ambição do poder e da riqueza. Tal como acontecera já há mil anos, tudo isto foi registrado na crônica com boas palavras e numa escrita clara:

Três luas passaram e três vezes três luas. Então as águas dividiram-se. A Terra acalmou de novo. As correntes seguiram diferentes cursos. Perderam-se por entre as colinas. Altas montanhas se ergueram em direção ao Sol. A Terra modificou-se quando os Servos Escolhidos deixaram as moradias subterrâneas, e grande foi a sua mágoa. Ergueram o rosto para o céu. Os seus olhos procuraram as planícies, os rios e os lagos. A verdade era terrível; a destruição medonha. E Ina reuniu o Conselho dos Velhos. As Tribos Escolhidas juntaram dádivas: jóias, mel das abelhas e incenso. E sacrificaram-nos para fazer com que os Deuses voltassem à Terra. Mas o céu manteve-se vazio. A era do jaguar começara: época de sangue quando tudo foi destruído. Assim foi separado o elo entre os Primitivos Mestres e os seus servos. E principiou uma nova vida.

Os anos de sangue, o período entre o ano 13 e o ano 7315, é a mais escura época na história do meu povo. A Crônica de Akakor não se refere a estes acontecimentos. Durante milhares de anos não há registros de qualquer espécie. A transmissão oral também é pobre e entremeada com escuras profecias.

Foi uma época medonha. O selvagem jaguar veio e devorou carne humana. Esmigalhou os ossos dos Servos Escolhidos. Arrancou as cabeças dos seus servos. A escuridão envolveu a Terra.

Depois da primeira Grande Catástrofe, o império ficou numa situação desesperadora. As moradias subterrâneas agüentaram os terríveis desmoronamentos e nenhuma das treze cidades foi destruída, mas muitas das vias que ligavam os limites do império ficaram bloqueadas. A sua misteriosa luz extinguira-se como uma vela assoprada pelo vento. As vinte e seis cidades foram destruídas por uma tremenda inundação. Os recintos dos templos sagrados de Salazere, Tiahuanaco e Manoa ficaram em ruínas, destruídos pela terrível fúria dos Deuses. As patrulhas enviadas trouxeram a notícia de que muito pouco das Tribos Aliadas haviam sobrevivido à catástrofe. Obrigados pela fome, abandonaram as suas velhas instalações e penetraram no território dos Ugha Mongulala, trazendo atrás de si a morte e a perdição. Desespero, desânimo e miséria espalharam-se por todo o império. Travaram-se renhidos combates nas últimas regiões férteis. O domínio das Tribos Escolhidas chegara ao fim.

Este foi o início do inglório fim do império. Os homens haviam perdido a razão. Andavam nos campos com as mãos pelo chão. Tremiam de medo e terror. Estavam abatidos. Tinham o espírito confuso. Atacavam-se uns aos outros como animais. Matavam o seu vizinho e comiam-lhe a carne. Na verdade, foram épocas horríveis.

O terrível período entre a primeira e a segunda Grande Catástrofe, de 10.468 a.C. a 3.166 a. C., segundo o calendário dos Bárbaros Brancos, trouxe o meu povo até a beira da extinção. Tribos degeneradas que haviam sido aliadas dos Ugha Mongulala antes da primeira Grande Catástrofe fundaram os seus próprios impérios. Derrotaram os exércitos dos Ugha Mongulala e fizeram-nos recuar até as portas de Akakor no nosso ano de 4.130.

As tribos dos Degenerados formaram uma aliança. Disseram: “Como podemos nós tratar com os nossos primitivos chefes? Na verdade, eles ainda são poderosos”. De modo que se reuniram em conselho. “Façamos uma emboscada e matemo-los. Não somos mais numerosos? Não somos mais que suficientes para os vencer?” E todas a tribos se armaram. Juntaram-se em grande número. A massa dos seus guerreiros estendeu-se mais longe do que os olhos podiam alcançar. Queriam tomar Akakor de assalto. Marcharam em formação para matar o príncipe Uma. Mas os Servos Escolhidos tinham-se preparado Mantiveram-se no cume da montanha. O nome da montanha era Akai. Todas as Tribos Escolhidas se haviam reunido junto de Uma quando os Degenerados se aproximaram. Vinham gritando, com arcos e setas. Cantavam canções de guerra. Berravam e assobiavam metendo os dedos na boca. E assim precipitavam-se contra Akakor.

Neste ponto A Crônica de Akakor é imprecisa. Os nossos sacerdotes contam que os Ugha Mongulala perderam a batalha e Uma morreu. Os sobreviventes retiraram para as suas habitações subterrâneas. A derrota na montanha de Akai representa o ponto mais baixo da infelicidade do meu povo. Tal como os Bárbaros Brancos, que negam os Deuses e se consideram para além das leis, os Ugha Mongulala arrastaram-se cada vez mais na humilhação. Confundidos com este incompreensível acontecimento, começaram a adorar árvores e rochas, até mesmo a sacrificar animais e seres humanos. Cometeram então o mais vergonhoso crime dos dez mil anos da história do meu povo.


E eis como aconteceu. Quando Uma foi morto na batalha contra as Tribos Degeneradas, o grande-sacerdote recusou que o seu filho Hanan entrasse nos secretos recintos dos Deuses e sem o respeito devido aos Antigos Pais, começou a governar o povo como considerou melhor. Estávamos no ponto máximo da era do sangue, época em que era chefe o selvagem jaguar.


Porque sofreu o meu povo estes crimes? Porque é que os mais velhos toleraram a má conduta do grande-sacerdote? Só há uma explicação. Depois da partida dos Deuses, só certas pessoas tinham consciência da sabedoria dos Primitivos Mestres. Os sacerdotes já não transmitiam os seus conhecimentos. Ensinavam a história dos Antigos Pais só aos de grande confiança. O seu poder tornava-se maior à medida que desaparecia o seu sagrado legado. Dentro em pouco só eles se sentiam responsáveis pelos acontecimentos da terra e do céu. Durante milhares de anos, os sacerdotes governaram onipotentes os Ugha Mongulala. Isto é o que contam os nossos antepassados. E deve ser verdade, porque só a verdade se mantém através do tempo na memória do homem.

A SEGUNDA GRANDE CATÁSTROFE



Terrível é a história. Terrível é a verdade. Os Servos Escolhidos ainda viviam nas habitações dos Deuses – seis, mil anos. O sagrado legado havia sido esquecido. A sua escrita tornara-se ilegível. Os seus servos tinham traído o combinado com os Deuses. Viviam para além de todas as fronteiras como animais da floresta Andavam com as mãos e os pés no chão. Cometiam-se crimes à luz do dia. E os Deuses sentiam-se com estas atitudes. Os seus corações enchiam-se de tristeza devido à maldade do homem. E disseram: “Castigaremos o povo. Arrancá-lo-emos da terra - homens e gado, vermes e pássaros do céu – porque desprezaram o nosso legado”. E os Deuses começaram a destruir o povo. Enviaram uma poderosa estrela, cuja cauda vermelha cobria todo o céu. E enviaram fogo mais vivo que um milhar de sóis. O grande julgamento começou. Durante treze luas caiu chuva. As águas do oceano subiram. Os rios corriam às avessas. O Grande Rio transformou-se num imenso lago. E o povo foi destruído. Todos morreram afogados no terrível dilúvio

Os Ugha Mongulala sobreviveram à segunda Grande Catástrofe da história da humanidade. Protegidos nas habitações subterrâneas dos seus Primitivos Mestres, observando a destruição da Terra com temor. Enquanto os Servos Escolhidos sabiam que estavam inocentes da primeira Grande Catástrofe, agora se acusavam como responsáveis pelo segundo terrível acontecimento. Surgiram lutas e querelas. Rompeu uma guerra civil na Baixa Akakor, que levaria o meu povo à extinção se não tivesse acontecido o que desde há muito era previsto pelos sacerdotes. Quando a necessidade era premente, os Primitivos Mestres voltaram.


E o seu regresso abre um novo capítulo na história dos Ugha Mongulala, o segundo livro da Crônica de Akakor. O primeiro livro acaba com os feitos de Madus, um corajoso guerreiro dos Ugha Mongulala, que, mesmo nos momentos mais difíceis, não perdera a fé no legado dos Deuses, tal como se escreve na crônica.

Madus atreveu-se a seguir a estrada que leva à superfície da Terra. Sem recear nem tempestades nem água, ele continua o seu caminho. Olha com tristeza o país devastado. Não via nem pessoas nem plantas – só animais e aves assustadas que voavam sobre o infinito lençol de água, até que cansadas caíam. Isto viu Madus. E ficava ao mesmo tempo triste e irritado. Arrancou tocos de árvores do solo inundado. Juntou madeira flutuante. Construiu uma jangada para auxiliar os animais. Arranjou um casal de cada dois jaguares, duas serpentes, duas antas e dois falcões. E as águas que subiam elevavam mais a jangada para as montanhas, no cume do monte Akai, a montanha de destino das Tribos Escolhidas. Aqui, Madus deixou os animais irem para a terra e os pássaros voarem. E quando, depois de treze luas, as águas baixaram e o sol desfez as nuvens, voltou para Akakor e narrou o fim da terrível era do sangue.



quinta-feira, 26 de julho de 2012

As Crônicas de Akakor  Parte I





As crônicas de Akakor, narra uma incrível história de uma civilização perdida que existiu a muitos anos na fronteira do Brasil com o Peru, civilização essa tão antiga quanto os Incas. Reveladas por Tatunca Nara, um dos remanescentes da tribo Ugha Mugulala, as história não era apenas um registro escrito da história da tribo dos Ugha, o que já seria suficientemente impressionante, como se estendiam por mais de 12.000 anos, período no qual vastas cidades teriam sido erguidas pela floresta tropical. Não paravam aí. As obras incluíram vastas redes de túneis subterrâneos construídos pelos deuses dos Ugha Mugulala que… vieram de um outro sistema solar.
Tudo seria publicado em um livro homônimo pelo jornalista alemão Karl Brugger, e falando em deuses astronautas, o próprio Erick von Däniken veio ao país algumas vezes para conferir, e depois divulgar, a história.
Muito bem, com civilizações milenares fundadas por alienígenas no meio da floresta amazônica, fvários se apresentaram para a tarefa de tentar localizar a cidade. Mas infelizmente, as lendas passaram às mortes. Karl Brugger foi assassinado em um restaurante no Rio de Janeiro, transformando a história do caçador de tesouros em uma espécie de Arquivo-X, repleto de conspiração e paranóia. Brugger não foi a única fatalidade.
O americano John Reed saiu em uma expedição em busca das cidades. Nunca mais foi encontrado. Em 1983 o explorador suíço Herbert Wanner também partiu para nunca mais voltar. Inteiro, pelo menos: seu crânio foi posteriormente encontrado na floresta e identificado. A alemã Christine Heuser, envolvida com toda a lenda, também despareceu no meio da floresta.
Apesar de tudo isso antes de morrer Karl Brugger, escreveu as Crônicas e nos deixa essa fantástica obra para que possamos ler e tirar nossas próprias conclusões, verdade ou não a história é impressionante, e além do mais os depoimentos de alguns idosos de Manaus batem perfeitamente com a história de Tatukan Nara.



Os cientistas não são os únicos que enriquecem ao explorar o desconhecido. Karl Brugger, nascido em 1942, depois de completar os seus estudos de história e sociologia contemporânea, foi para a América do Sul como jornalista e obteve informações acerca de Akakor. Desde 1974 que Brugger é correspondente das estações de rádio e televisão da Alemanha Ocidental. Atualmente, é considerado um especialista em assuntos que dizem respeito aos Índios. Em 1972, Brugger encontrou Tatunca Nara, filho de um chefe índio, em Manaus, na confluência do rio Solimões com o rio Negro, isto é, no início do Amazonas. Tatunca Nara é chefe dos índios Ugha Mongulala, Dacca e Haisha. Brugger, investigador escrupuloso, ouviu a história inacreditável mas verdadeira que o mestiço lhe contou.
Depois de ter verificado tudo conscienciosamente, decidiu publicar a crônica que tinha registrado no gravador. Como estou habituado ao fantástico e sempre preparado para o extraordinário, não me emociono facilmente, mas devo confessar que me senti invulgarmente impressionado com A Crônica de Akakor tal como me relatou Brugger. Abre uma dimensão que obriga os céticos a verificar que o inconcebível é muitas vezes possível.

Incidentalmente, A Crônica de Akakor foca precisamente o quadro que é familiar aos mitologistas de todo o mundo. Os deuses vieram “do céu”, instruíram os primeiros humanos, deixaram atrás de si alguns misteriosos instrumentos e desapareceram novamente no “céu”. Os desastres devastadores descritos por Tatunca Nara podem ser relacionados até ao mínimo pormenor com Os Mundos em Colisão, de Immanuel Velikovsky, as suas extraordinárias descrições de uma catástrofe mundial e mesmo as referências às datas são simplesmente espantosas. Igualmente, a afirmação de que certas partes da América do Sul são cortadas por passagens subterrâneas não pode chocar nenhum conhecedor do assunto. Num outro livro referi-me ter visto as tais estruturas subterrâneas com os meus próprios olhos, A Crônica de Akakor dá resposta a muito do que é apenas aflorado noutros trabalhos sobre assuntos semelhantes
INTRODUÇÃO
A Amazônia começa em Santa Maria de Belém, a cento e vinte quilômetros da costa do Atlântico. Em 1616, quando duzentos portugueses, sob a chefia de Francisco Castelo Branco, tomaram posse deste território em nome de Sua Majestade o Rei de Portugal e Espanha, o seu cronista descreveu-o como uma doce  e convidativa zona de terreno com árvores gigantescas. Presentemente, Belém é uma grande cidade, com arranha-céus, de tráfego intenso e uma população de seiscentos e trinta e três mil habitantes. É o ponto de partida da civilização branca na sua conquista das florestas virgens da Amazônia. Contudo, através de quatrocentos anos, a cidade tem conseguido preservar traços do seu passado heróico e místico. Palácios de estilo colonial dilapidados e edifícios de azulejos com enormes portões de ferro são testemunhas de uma era famosa, quando a descoberta do processo de vulcanização da borracha elevou Belém ao nível de uma metrópole européia. O mercado de dois andares na área do porto também data desta época.Aqui quase tudo pode ser comprado: peixe do Amazonas ou do oceano, perfumados frutos tropicais; ervas medicinais, raízes, bulbos e flores; dentes de crocodilo, que dizem ter propriedades afrodisíacas, e rosários feitos de terracota

Santa Maria de Belém é uma cidade de contrastes.

No centro, ruas ruidosas de tráfego, mas o mundo selvagem da ilha de Marajó, outrora povoada por uma das populações altamente civilizadas que tentaram conquistar a Amazônia, fica apenas a duas horas de viagem, rio acima, na margem oposta. De acordo com a história tradicional, os Marajoaras chegaram à ilha  mais ou menos em 1100, quando a sua civilização estava no apogeu, mas na altura em que os exploradores europeus chegaram, este povo já tinha desaparecido. Tudo o que ele resta são belas cerâmicas, figuras estilizadas traduzindo dor, alegria e sonhos. Parecem contar uma história, Mas qual?

Até à ilha de Marajó, o Amazonas é uma confusa rede de canais, afluentes e lagoas. O rio estende-se por uma distância de seis mil quilômetros: nasce no Peru e atinge os rápidos colombianos, mudando de nome em cada país que atravessa – de Apurimac a Ucayali e Marañon, e de Marañon a Solimões. Para além da ilha de Marajó, o Amazonas tem um caudal maior que qualquer outro rio do mundo.

Um grande barco a motor, único meio de transporte na Amazônia, leva três dias para fazer a travessia de Belém à Santarém, a localidade mais próxima. É impossível compreender o grande rio sem ter experimentado estes barcos a motor, que incorporam a noção de tempo, vida e distância na Amazônia. Podem fazer-se cento e cinqüenta quilômetros por dia (não por hora) rio abaixo; nestes barcos o tempo passa-se a comer, a beber, a sonhar e a amar.

Santarém fica situada na margem direita do Amazonas, na embocadura do rio Tapajós. Uma população de trezentos e cinqüenta mil habitantes atravessa uma época próspera, pois a cidade é terminal da Transamazônica e atrai garimpeiros, contrabandistas e aventureiros. Uma das mais antigas civilizações da Amazônia floresceu aqui, o povo do Tapajós, provavelmente a maior tribo da selva índia. O historiador Heriarte afirmou que, se fosse necessário, tinham possibilidade de alinhar cinqüenta mil arqueiros para uma batalha. Mesmo considerando este número um exagero, sabe-se que os Tapajós foram suficientemente numerosos para fornecer ao mercado de escravos portugueses durante oitenta anos. Esta orgulhosa tribo não nos legou senão espécimes arqueológicos... e o rio  que tem o seu nome.

Rios, cidades e lendas da Amazônia sucedem-se de Santarém a Manaus. Presume-se que o aventureiro espanhol Francisco Orellana combateu os habitantes da Amazônia na foz do rio Nhamundá. O lago Iacy, “Espelho da Lua”, situa-se na margem direita do rio, junto à povoação de Faro. De acordo com a lenda, as Amazonas desciam até o lago, vinda das montanhas que o rodeavam, quando havia lua cheia, para encontrarem os apaixonados que as esperavam. Mergulhavam em busca de pedras estranhas, que, debaixo de água, podiam ser amassadas como pão, mas que em terra adquiriam dureza. As Amazonas chamavam a estas pedras muiraquitã e davam-nas aos seus apaixonados. Os cientistas consideram-nas “milagres arqueológicos”: duras como o diamante, têm formas artificiais, se bem que a evidência tenha provado que os Tapajós não tinham ferramentas para trabalhar esta espécie de material.

O verdadeiro rio Amazonas nasce na confluência do rio Solimões com o rio Negro. De barco, leva-se vinte minutos para chegar a Manaus, que não tem qualquer estrada de comunicação com a costa. Foi aqui que encontrei Tatunca Nara, a 3 de Março de 1972. M., que comandava o contingente da selva brasileira em Manaus, tinha sido o encarregado de me proporcionar este encontro. Foi no Bar Graças a Deus que encontrei pela primeira vez o chefe índio. Era alto, tinha um longo cabelo escuro e um rosto delicadamente modelado. Os seus olhos, castanhos, pequenos e cheios de suspeita, eram característicos dos mestiços. Tatunca Nara vestia um desbotado uniforme tropical, que, tal como mais tarde me explicou, lhe fora dado pelos oficiais. O seu largo cinto de couro com fivela de prata era impressionante. Os primeiros minutos da nossa conversa foram difíceis. Com certa relutância, Tatunca Nara contou, em mau alemão, as suas impressões da cidade branca, com a sua imensa população, o trânsito das ruas, os elevados edifícios e o insuportável barulho. Só quando venceu a sua reserva e as suas suspeitas iniciais me contou a história mais extraordinária que jamais ouvi. Tatunca Nara falou-me da tribo dos Ugha Mongulala, um povo que há quinze mil anos foi “o eleito dos Deuses”. Descreveu duas grandes catástrofes que haviam devastado a Terra e referiu-se ao príncipe Lhasa, um filho dos Deuses, que governou no Sul do continente americano, às suas relações com o Egito, à origem dos Incas, à chegada dos Bárbaros e à aliança dos índios com dois mil soldados alemães. Falou de gigantescas cidades de pedra e instalações subterrâneas dos divinos antepassados. E contou-me que todos estes fatos tinham sido registrados num documento chamado A Crônica de Akakor.

A mais longa parte da sua história referia-se às lutas dos índios contra os brancos, contra os espanhóis e portugueses plantadores de borracha, colonos, aventureiros e soldados do Peru. Empurraram os Ugha Mongulala, de quem pretendia ser o príncipe, cada vez mais para os Andes, até mesmo nas instalações subterrâneas. Apelava agora para os seus maiores inimigos, os brancos, pedindo auxílio perante a iminente extinção do seu povo. Antes de falar comigo, Tatunca Nara conversara com altas personalidades brasileiras do Serviço de Proteção aos Índios, mas sem qualquer êxito. Esta, no entanto, era a sua história. Ia dar crédito ou não? No úmido calor do Bar Graças a Deus foi-me revelado um estranho mundo que, se existisse, tornavam reais as lendas maia e inca.

O segundo e o terceiro encontro com Tatunca Nara foram no meu quarto de hotel com ar condicionado. Num monólogo que durou horas, só interrompido para mudar a fita no gravador, ele contou a história dos Ugha Mongulala, as Tribos Escolhidas Aliadas, do ano zero até 12.453 (de 10.481 a. C. até 1972, de acordo com o calendário da civilização branca). Mas o meu entusiasmo inicial tinha desaparecido. A história parecia-me excessivamente extraordinária: uma outra lenda da floresta, fruto do calor tropical e do místico efeito da selva impenetrável. Quando Tatunca Nara acabou a sua narrativa eu tinha doze gravações de um fantástico conto de fadas.

A história de Tatunca Nara só começou a parecer plausível quando, numa outra vez, encontrei um amigo, o oficial brasileiro M. Era membro do serviço secreto e fazia parte do “segundo departamento”. M. conhecia Tatunca Nara já havia quatro anos e confirmou, pelo menos, o fim das suas aventuras. O chefe indio salvara a vida de doze oficiais brasileiros cujo avião caíra na província do Acre e devolveu-os à civilização. As tribos índias de Yaminauá e Kaxinauá reverenciavam Tatunca Nara como chefe, muito embora não lhes pertencesse. Estes fatos foram documentados nos arquivos do serviço secreto brasileiro. Decidi investigar ainda mais a história de Tatunca Nara.

As minhas buscas no Rio de Janeiro, Brasília, Manaus e Rio Branco tiveram resultados extraordinários. A história de Tatunca Nara está documentada em jornais e começa em 1968, quando um chefe índio branco é mencionado por ter salvo a vida de doze oficiais brasileiros obtendo a sua libertação dos índios Haisha e levando-os para Manaus. Devido ao auxílio que prestou aos oficiais, Tatunca Nara foi recompensado com uma carteira de trabalho e um documento de identidade. De acordo com o que dizem as testemunhas, o misterioso chefe índio fala uma mau alemão, compreende só algumas palavras em português, mas é fluente em algumas línguas índias faladas no alto Amazonas. Poucas semanas depois da sua chegada a Manaus, Tatunca Nara desapareceu subitamente, sem deixar rastro.

Em 1969, surgiram grandes lutas entre as tribos de índios selvagens e os colonos brancos da fronteira do Peru na província de Madre de Dios, uma região miserável e esquecida na encosta oriental dos Andes. A velha história da Amazônia revivia: a revolta dos oprimidos contra os opressores, seguidos da vitória dos brancos, sempre vitoriosos. O chefe dos índios, que, de acordo com os relatos da imprensa do Peru, era conhecido por Tatunca (“grande serpente-d’água”), fugiu para território brasileiro após derrota. Com o propósito de evitar a continuação dos ataques, o Governo do Peru pediu ao Brasil a sua extradição, mas as autoridades brasileiras recusaram-se a cooperar.

A luta de fronteira da província de Madre de Dios acalmou aos poucos durante os anos de 1970 e 1971. As tribos índias selvagens fugiram para as quase inacessíveis florestas perto da nascente do rio Yaku. Aparentemente, Tatunca Nara desaparecera. O Peru fechou a fronteira com o Brasil e iniciou a invasão sistemática da floresta virgem. De acordo com testemunhas oculares, os índios do Peru partilharam da sorte dos seus irmãos brasileiros: foram assassinados ou morreram de doenças características da civilização branca.

Em 1972, Tatunca Nara voltou à civilização branca, e na cidade brasileira de Rio Branco relacionou-se com o bispo católico Grotti. Juntos pediram alimentos para os índios do rio Yaku nas igrejas da capital do Acre. Desde que a província do Acre tinha sido considerada “livre de índios” nem ao bispo foi concedido qualquer auxílio do Estado. Três meses mais tarde, monsenhor Grotti morria na queda misteriosa de um avião.

Mas Tatunca Nara não desistiu. Com o auxílio dos doze oficiais cuja vida salvara, entrou em contato com serviço secreto brasileiro. Apelou também para o Serviço de Proteção aos Índios do Brasil (a atual FUNAI) e contou a N., secretário da Embaixada da Alemanha Ocidental em Brasília, a história dos dois mil soldados alemães que desembarcaram no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e que  ainda estavam vivos em Akakor, a capital do seu povo. N. não acreditou na história e recusou o acesso de Tatunca Nara à embaixada. A FUNAI só concordou em cooperar depois de muitos pormenores da história de Tatunca Nara acerca das tribos índias da Amazônia serem confirmados, durante o Verão de 1972. O Serviço organizou então uma expedição para estabelecer contato com os misteriosos Ugha Mongulala e deu instruções a Tatunca Nara para fazer os preparativos necessários. No entanto, estes planos foram interrompidos devido à resistência das autoridades da província do Acre. Devido a instruções pessoais do governador Wanderlei Dantas, Tatunca Nara foi preso. Pouco antes da sua extradição para o Peru, os oficiais seus amigos libertaram-no da prisão de Rio Branco e tornaram a leva-lo para Manaus. E aqui me tornei a encontrar com Tatunca Nara.

O encontro seguinte teve uma seqüência diferente. Eu tinha verificado a sua história e comparado a fita gravada com o material dos arquivos e relatórios de historiadores contemporâneos. Alguns pontos podiam ser explicados, mas eu ainda pensava que muita coisa era inteiramente inacreditável, como por exemplo, as instalações subterrâneas e o desembarque dos dois mil soldados alemães. Mas era improvável que tudo isto fosse inventado: as datas do oficial M. e as da história de Tatunca Nara coincidiam.

No decorrer deste encontro, Tatunca Nara repetiu a história mais uma vez. Indicou num mapa a aproximada localização de Akakor, descreveu a rota dos soldados alemães de Marselha até o rio Purus e referiu-se a vários dos seus chefes. Desenhou vários símbolos dos deuses que presumivelmente apareciam na Crônica de Akakor. Voltava constantemente a estes misteriosos antepassados cuja memória ficara para sempre intacta no seu povo. Comecei a acreditar numa história cuja incredibilidade se tornava um desafio. Quando Tatunca Nara sugeriu que o acompanhasse a Akakor, aceitei.



Tatunca Nara, o fotógrafo brasileiro J. e eu partimos de Manaus a 25 de Setembro de 1972. Pretendíamos alcançar a parte superior do rio Purus num barco que alugáramos. Levávamos também uma canoa com motor de popa e utiliza-la-íamos para alcançar a região afluente do rio Yaku, na fronteira entre o Brasil e o Peru, e depois continuaríamos a pé pelas colinas dos Andes até Akakor. O tempo destinado à expedição era seis semanas, contando nós, regressar nos princípios de Novembro. O nosso carregamento era constituído por redes, mosquiteiros, utensílio de cozinha, alimentos, as habituais roupas para a selva e remédios. Como armas levávamos uma Winchester 44, dois revólveres, uma espingarda de caça e grandes machados. Levávamos também equipamento para filmar, dois gravadores e máquinas fotográficas.

Os primeiros dias foram inteiramente diferentes daquilo que esperávamos: não apareceram nem mosquitos, nem cobras-d’água, nem piranhas. O rio Purus era como um lago que não tivesse margens. Avistávamos a selva no horizonte, com os seus mistérios oculto atrás de uma muralha verde.

A primeira cidade que alcançamos foi Sena Madureira,última povoação antes de se entrar nas inexploradas regiões fronteiriças entre o Brasil e Peru. Era típica de toda a Amazônia: estradas de argila suja, cabanas desmanteladas e um cheiro desagradável de água estagnada. Oito entre dez habitantes sofriam de beribéri, eram leprosos ou tinham malária. Uma má nutrição crônica deixara o povo num estado de triste resignação. Rodeadas pela brutalidade da selva e isoladas da civilização, as pessoas dependiam sobretudo da aguardente de cana, seu único meio de escapar a uma infeliz realidade. Num bar, dizemos adeus à civilização e encontramos um homem que presumivelmente conhece a parte superior do rio Purus. À procura de ouro, esteve cativo dos índios Haisha, uma tribo semi-civilizada da vizinha região do rio Yaku. O que ele nos conta é desencorajante: fala-nos em rituais canibalescos e setas envenenadas.
A cinco de Outubro, na cachoeira Inglesa, trocamos o barco pela nossa canoa, e de agora em diante dependemos de Tatunca Nara. Os mapas mostram muito deficientemente o curso do rio Yaku. As tribos índias que vivem nesta região não têm qualquer contato com a civilização branca. J. e eu tínhamos ambos uma sensação desagradável: haverá na realidade um local chamado Akakor? Podíamos confiar em Tatunca Nara? Mas a aventura provava ser mais forte que a nossa ansiedade.
Doze dias depois de deixarmos Manaus, a paisagem começa a modificar-se. O rio até esse ponto parecia um mar acastanhado, sem praias. Agora navegávamos entre cipós, sob árvores inclinadas. Depois de uma curva do rio encontramos um grupo de prospectores que construíram uma fábrica primitiva na margem do rio e peneiravam uma areia grossa. Aceitamos o seu convite para ali passar a noite e escutamos as suas estranhas histórias de índios de cabelos pintados de azul encarnado que usavam setas envenenadas...

A viagem transforma-se em expedição contra as nossas próprias dúvidas. Estamos a uns escassos dez dias da nossa suposta meta. A dieta monótona, o esforço físico e o receio do desconhecido influíram poderosamente sobre nós. O que em Manaus parecia uma fantástica aventura tornou-se agora num pesadelo, Basicamente, pensávamos que gostaríamos de voltar e esquecer tudo acerca de Akakor, antes de ser demasiado tarde.

Ainda não encontramos índios. As primeiras montanhas dos Andes cobertas de neve surgem no horizonte: atrás de nós estende-se o verde-mar das terras baixas da Amazônia. Tatunca Nara prepara-se para voltar para seu povo. Numa estranha cerimônia, pinta o corpo: na cara traços vermelhos, e no peito e nas pernas riscas amarelo-escuras. Prende o cabelo atrás com uma tira de couro, que é decorada com os estranhos símbolos dos Ugha Mongulala.

A 13 de Outubro não temos possibilidade de regresso. Depois de uma perigosa passagem sobre as corredeiras, a canoa é apanhada por um redemoinho e vira-se. O nosso equipamento fotográfico, que vinha em caixas, perde-se na densa floresta das margens; metade dos nossos alimentos e remédios perderam-se também. Nesta situação desesperadora decidimos desistir da expedição e voltar para Manaus. Tatunca Nara reage com irritação: está impaciente e desapontado. Na manhã seguinte, J. e eu deixamos o nosso último acampamento. Tatunca Nara, com as pinturas de guerra do seu povo, usando só um pano a cobrir-lhe os rins, toma a estrada que o levará à sua tribo.

Este foi o meu último contato com o chefe dos Ugha Mongulala. Depois do meu regresso ao Rio de Janeiro, em Outubro de 1972, tentei esquecer Tatunca Nara, Akakor e os Deuses. Só no Verão de 1973 a recordação voltou: o Brasil principiara a sistemática invasão da Amazônia. Doze mil trabalhadores construíam duas estradas através da ainda não explorada selva, numa distância de sete mil quilômetros. Trinta mil índios tomaram os bulldozers  por antas gigantes e fugiram para a selva. Começara o último ataque a Amazônia.

E com isto recordava as velhas lendas, tão fascinantes e míticas como antes. Em Abril de 1973, a FUNAI descobriu uma tribo de índios brancos na parte superior do rio Xingu, que Tatunca Nara me mencionara um ano antes. Em Maio, durante trabalhos de reconhecimento no Pico da Neblina, os guardas de fronteira brasileiros estabeleceram contato com índios que eram chefiados por mulheres. Estes também tinham sido descritos por Tatunca Nara. E finalmente, em Junho de 1973, várias tribos índias foram avistadas na região do Acre, que antes havia sido considerada “livre de índios”.

Akakor existe realmente? Talvez não seja exatamente da maneira como Tatunca Nara a descreveu, mas a cidade é, sem dúvida alguma, real. Depois de tornar a ouvir as gravações de Tatunca Nara decidi escrever a sua história “com boas palavras e numa escrita clara”, como dizem os Índios. Este livro, A Crônica de Akakor, tem cinco partes. “O Livro do Jaguar” relaciona-se com a colonização da Terra pelos Deuses e vai até o período da segunda catástrofe mundial. “O Livro da Águia” compreende o tempo entre 6.000 e 11.000 (do seu calendário) e descreve a chegadas dos Bárbaros. O terceiro livro, “O Livro da Formiga”, fala-nos de luta contra os colonizadores portugueses e espanhóis depois de desembarcarem no Peru e no Brasil. O quarto e último livro, “O Livro da Serpente-d’Água”, descreve a chegada de dois mil soldados alemães a Akakor e a sua integração no povo dos Ugha Mongulala; também prediz uma terceira grande catástrofe. Na quinta parte, o “Apêndice”, fiz o sumário dos resultados das minhas pesquisas nos arquivos brasileiros e alemães.

A maior parte deste livro, a atual Crônica de Akakor, segue justamente a narrativa de Tatunca Nara. Tentei torná-la tão literária quanto possível, mesmo quando os fatos parecem contradizer a historiografia tradicional. Fiz o mesmo com os mapas e desenhos baseados nas datas fornecidas por Tatunca Nara. Os escritos foram feitos por Tatunca Nara em Manaus. Todas as subseções estão precedidas por um curto sumário da história tradicional, para dar ao leitor uma base de comparação, mas restringem-se aos acontecimentos mais importantes da história da América do Sul. A tábua cronológica, no fim do livro, fornece a justaposição do calendário de Akakor com o da história tradicional. Noutro quadro refiro-me aos nomes prováveis dados pela civilização branca às várias tribos referidas no texto.

As citações da Crônica de Akakor impressas como suplemento foram ditas por Tatunca Nara, que as sabia de cor. Segundo ele, a crônica atual foi escrita em madeira, em pele e mais tarde também em pergaminho, e está guardada por sacerdotes no Templo do Sol, a maior herança dos Ugha Mongulala. O bispo Grotti foi o único homem branco a vê-la e trouxe com ele vários excertos. Depois da sua misteriosa morte, os documentos desapareceram. Tatunca Nara pensa que o bispo os escondeu ou que estão guardados nos arquivos do Vaticano.

Verifiquei o mais cuidadosamente possível todas as informações da “Introdução” e do “Apêndice” no que diz respeito à sua veracidade. As citações dos historiadores contemporâneos vêm de fontes materiais espanholas e traduzi-as eu próprio. Só acrescentei as minhas próprias considerações no “Apêndice”, para auxiliar o leitor a compreende-las melhor. Por esta razão não me baseei nas teorias que dizem respeito a astronautas ou a seres divinos como possíveis antecessores da civilização humana. A ênfase deste livro diz respeito à história e à civilização dos Ugha Mongulala, em contraste com a dos Bárbaros Brancos.

Akakor existiu realmente? Há uma história escrita dos Ugha Mongulala? As minhas próprias dúvidas obrigaram-me a dividir este livro em duas partes. Na Crônica de Akakor só incluí os relatos de Tatunca Nara. O “Apêndice” contem o material que fui buscar nas respectivas origens. A minha contribuição não é muita, comparada com a história de um povo misterioso, com os Primitivos Mestres, leis divinas, instalações subterrâneas e muitas outras coisas. Esta é uma história que pode ter tido origem numa lenda, mas que, no entanto, pode ser confirmada. E o leitor deve ele próprio decidir se isto é um relato inteligentemente inventado, baseado em passos de escritos inadequadamente históricos, ou um pedaço de história verdadeira relatada “com boas palavras e numa escrita clara”.

O LIVRO DO JAGUAR

Este é o jaguar
Poderoso é seu salto
E forte as suas patas.
É o senhor das florestas.
Todos os animais são seus súditos.
Não tolera resistência.
Destrói o desobediente
E devora-lhe a carne
I- I-    O REINO DOS DEUSES


600.000 A. C. – 10.481 A. C.


O início da história da humanidade é uma questão contestada. De acordo com a Bíblia, Deus criou o mundo em seis dias para a sua própria honra e para a honra da humanidade. Então ele moldou o homem do pó e deu-lhe o sopro da vida. Mas de acordo com o Popol Vuh, o Livro do Maia, o homem só surgiu na quarta criação divina, depois de três mundos anteriores terem sido destruídos por medonhas catástrofes. A historiografia tradicional coloca o início da história da humanidade em 600.000 a. C., e os primeiros humanos não conheciam ferramentas nem o uso do fogo. Segue-se, cerca de 80.000 a. C., o homem de Neandertal, que avançara extraordinariamente e conhecia o uso do fogo, tendo desenvolvido ritos funerários. A Pré-História, a primitiva história do homem, começa em 50.000 a. C.; de acordo com achados arqueológicos, tem sido dividida em Idade da Pedra, do Bronze e do Ferro. Durante a Idade da Pedra, o homem era caçador e pastor; caçava o mamute, cavalos selvagens e rangíferos. Com a lenta regressão da camada de gelo, gradualmente foi seguindo os animais que se dirigiam para o norte: a agricultura e os animais domésticos eram-lhe ainda desconhecidos. No entanto, as suas pinturas nas paredes dos abrigos são evidência de uma arte surpreendentemente sofisticada, baseada nos ritos de caça mágico-religiosa. Está assente que cerca de 25.000 a. C. as primeiras tribos da Ásia Central atravessaram o estreito de Bering em direção à América.


OS MESTRES ESTRANGEIROS DE SCHWERTA


A Crônica de Akakor, a história escrita do meu povo, começa na hora zero, quando os Deuses nos deixaram. Nessa época, Ina, o primeiro príncipe dos Ugha Mongulala, resolveu que tudo quanto acontecesse fosse narrado com boas palavras e numa escrita clara. E assim, A Crônica de Akakor é testemunha perante a História do mais antigo povo do mundo, desde o início, a hora zero, quando os Primitivos Mestres nos deixaram, até ao momento atual, quando os Bárbaros Brancos estão a tentar destruir o nosso povo. Explica o testamento dos Antigos Pais – o seu saber e a sua prudência. E descreve a origem do tempo, quando o meu povo era o único do continente e o Grande Rio ainda corria de um e de outro lado, quando o país era ainda plano e suave como o lombo de um cordeiro. Tudo isto está escrito na crônica, a história do meu povo, desde a partida dos Deuses, a hora zero, que corresponde ao ano de 10.481 a. C. de acordo com o calendário dos Bárbaros Brancos.


Esta é a história. Esta é a história dos Servidores Escolhidos. No início era o caos. Os homens viviam como animais, sem razão, sem conhecimento, sem leis, e sem trabalhar o solo, sem se vestirem, nem sequer cobrindo a sua nudez. Não conheciam nada dos segredos da natureza. Viviam em grupos de dois e três, como o acaso os juntava, em cavernas ou nas fendas das rochas. Caminhavam com os pés e as mãos até a chegada dos Deuses. Eles trouxeram a luz.


Não sabemos quando tudo isto aconteceu. Donde vieram esses seres estranhos é um tênue conhecimento. Um denso mistério envolve a origem dos Primitivos Mestres, que nem sequer o conhecimento dos sacerdotes consegue esclarecer. De acordo com a tradição, a época deve ter sido 3.000 anos antes da hora zero (13.481 a. C., segundo o calendário dos Bárbaros Brancos). De repente, navios brilhantes, dourados, apareceram no céu. Enormes línguas de fogo iluminaram a planície. A terra tremeu e o trovão ecoou sobre as colinas. O homem baixou a cabeça em sinal de veneração, perante as poderosas e estranhas criaturas que vinham tomar posse da Terra.

Estes estranhos indivíduos disseram que a sua pátria se chamava Schwerta, um mundo muito distante, na profundeza do universo, onde viviam os seus antepassados e donde eles tinham vindo com a intenção de espalhar conhecimento pelos outros mundos. Os nossos sacerdotes dizem que era um poderoso império constituído por muitos planetas e com inúmeros grãos de pó na estrada. Também dizem que ambos os mundos, o dos Primitivos Mestres e a própria Terra, se encontravam de seis mil em seis mil anos. Então os Deuses voltam.

Com a chegada dos estranhos visitantes ao nosso mundo começou a Idade do Ouro. Cento e Trinta famílias dos Antigos Pais vieram para a Terra para libertar o homem da escuridão. E os Deuses reconheceram-nos como seus irmãos. Instalaram as tribos errantes; deram-lhes bons quinhões de todos os comestíveis. Trabalharam diligentemente para ensinar ao homem as suas leis, mesmo quando o seu ensino encontrava oposição. Por todo este labor, e por causa de tudo quanto sofreram pela humanidade e por quanto nos trouxeram e nos esclareceram, nós veneramo-los como os iniciadores da nossa luz. E os nossos artistas mais hábeis reproduziram imagens dos Deuses que testemunham através de toda a eternidade a sua verdadeira grandeza e maravilhoso poder. E assim a imagem dos Primitivos Mestres ficou descrita até aos nossos dias.

Aparentemente, esses oriundos de Schwerta não eram diferentes do homem. Tinham uns corpos graciosos e pele branca. O seu rosto nobre era emoldurado por uma cabeleira de um preto azulado. Uma barba espessa cobria-lhes o lábio superior e o queixo. Tal como os homens, os Antigos Pais eram seres vulneráveis, com carne e sangue. Mas o sinal que os distinguia decisivamente dos homens era terem seis dedos nas mãos e nos pés, característica da sua origem divina.


Quem pode aprender a penetrar os atos dos Deuses? Quem pode aprender a compreender os seus feitos? Seguramente, eram poderosos e incompreensíveis para os vulgares mortais. Conheciam o curso das estrelas e as leis da natureza. Na realidade, eram-lhes familiares as mais altas leis do universo. Cento e trinta famílias dos Antigos Pais vieram para a Terra e trouxeram a luz.

AS TRIBOS ESCOLHIDAS


A memória dos nossos mais antigos antepassados torna-me assombrado e triste. O meu coração pesa-me porque agora estamos sós, abandonados pelos nossos Primitivos Mestres. Devemos-lhe a nossa força e tudo quanto sabemos. Antes de estes estranhos vierem de Schwerta, os homens vagueavam como crianças que perderam o lar, cujos corações não albergavam amor. Juntavam raízes, bulbos e frutos selvagens; viviam em cavernas e buracos cavados no solo; e tinham disputas com os vizinhos por causa das peças caçadas. Depois vieram os Deuses e estabeleceram uma nova ordem no mundo. Ensinaram aos homens a cultivar a terra e a criar animais. Ensinaram-lhes a tecer e distribuíram lares permanentes às famílias e aos clãs. E foi assim que as tribos se desenvolveram.

Este foi o início da luz, da vida e das tribos. Os Deuses juntaram os homens. Deliberaram, consideraram e fizeram reuniões. Depois tomaram decisões. E entre o povo escolheram os criados que deviam viver com eles, servos a quem legaram todo o seu saber.

Com as famílias escolhidas os Deuses fundaram uma nova tribo, a que deram o nome de Ugha Mongulala, que na língua dos Bárbaros Brancos significa “Tribos Escolhidas Aliadas”. Como penhor dos seus eternos acordos, ligaram-se aos servos. Portanto, os Ugha Mongulala parecem-se com os seus divinos antepassados mesmo ainda hoje. São altos; o rosto é caracterizado por maçãs salientes, um nariz bem delineado e olhos em forma de amêndoa. Tanto os homens como as mulheres têm um espesso cabelo preto-azulado. A única diferença eram os cinco dedos dos mortais, tanto nas mãos como nos pés. Os Ugha Mongulala são o único povo de pele branca do continente.

Se bem que os Primitivos Mestres guardassem muitos segredos, a história do meu povo também explica a história dos Deuses. Os estranhos vindos de Schwerta fundaram um poderoso império. Com o seu conhecimento, a sua superior sabedoria e os seus misteriosos utensílios, foi-lhes fácil modificar a Terra de acordo com as suas próprias idéias. Dividiram o país e construíram estradas e canais. Semearam plantas até então desconhecidas pelo homem. Ensinaram aos nossos antepassados que um animal não é só presa de caça, mas que também pode constituir uma posse valiosa e indispensável contra a fome. Pacientemente, partilharam o conhecimento necessário, de modo que o homem pudesse entrar na posse dos segredos da natureza.

Baseados nesta sabedoria, os Ugha Mongulala sobreviveram durante milênios, apesar das horríveis catástrofes e das terríveis guerras. Como os Servos Escolhidos dos Primitivos Mestres, determinaram a história da humanidade durante 12.453 anos, tal como foi escrito na Crônica de Akakor:

A linhagem dos Servos Escolhidos não desapareceu. Os chamados Ugha Mongulala sobreviveram. Muitos dos seus filhos podem ter morrido em guerras devastadoras; medonhas catástrofes deram-se nos seus domínios. Mas a força dos Servos Escolhidos permaneceu intacta. Eram os senhores. Eram os descendentes dos Deuses.


O IMPÉRIO DE PEDRA


A Crônica de Akakor, a história escrita do povo dos Ugha Mongulala. Só começa depois da partida dos Primitivos Mestres, no ano zero. Nesta altura, Ina,  o primeiro príncipe dos Ugha Mongulala, ordenou que todos os acontecimentos fossem registrados com boas palavras e numa escrita clara, e com a devida veneração pelos Primitivos Mestres. Mas a história dos Servos Escolhidos remonta a mais tarde, à Idade do Ouro, quando os Antigos Pais ainda governavam o Império. Desta época muito poucos testemunhos se têm conservado. Os Deuses devem ter estabelecido um poderoso império, onde a todas as tribos foram distribuídas tarefas. Os Ugha Mongulala atingiram o seu mais elevado grau. Era povo de grande sabedoria, o que o tornava superior a todos os outros. No ano zero, os Deuses legaram as suas cidades e templos às Tribos Escolhidas. Duraram doze mil anos.

Poucos Bárbaros Brancos têm visto estes monumentos ou a cidade de Akakor, capital do meu povo. Alguns soldados espanhóis capturados pelos Ugha Mongulala conseguiram fugir servindo-se de passagens subterrâneas. Aventureiros e colonos brancos que descobriram a nossa capital têm sido presos pelo meu povo.

Akakor, capital do domínio, foi construída há catorze mil anos pelos nossos antepassados, guiados pelos Primitivos Mestres. O nome também foi dado por eles: Aka significa “fortaleza” e Kor significa “dois”. Akakor é a segunda fortaleza. Os nossos sacerdotes também falam na primeira fortaleza, Akanis. Erguia-se num estreito istmo na região que é hoje o México, no local em que os dois oceanos se encontram. Akahim, a terceira fortaleza, só é mencionada na crônica anterior ao ano 7.315. A sua historia está intimamente ligada à de Akakor.

A nossa capital ergue-se num vale, nas montanhas, entre dois países: Peru e Brasil. Está protegida em três lados por rochas escarpadas. Para leste, uma planície que desce gradualmente alcança a selva de cipós da grande região da floresta. Toda a cidade é rodeada por uma alta muralha de pedra com treze entradas. Estas são tão estreitas que só dão entrada a uma pessoa de cada vez. A planície a leste é guardada por vigias de pedra onde guerreiros escolhidos estão sempre vigilantes, por causa dos inimigos.

Akakor é traçada em retângulos. Duas ruas principais cruzadas dividem a cidade em quatro partes, correspondendo aos quatro pontos universais dos nossos Deuses. O Grande Templo do Sol e um portal de pedra cortado de um só bloco erguem-se numa vasta praça, ao centro. O templo está voltado a leste, para o sol-nascente, e é decorado com imagens dos nossos Primitivos Mestres. As criaturas divinas usam um bastão encimado pela cabeça de um jaguar. A figura está coroada por um toucado de ornamentos animais. Os trajes são enfeitados com desenhos semelhantes. Uma escrita estranha, que só pode ser interpretada pelos nossos sacerdotes, fala da fundação da cidade. Todas as cidades de pedra que foram construídas pelos nossos Primitivos Mestres têm um portal semelhante.

O mais impressionante edifício de Akakor é o Grande Templo do Sol. As suas paredes exteriores não têm enfeites e são feitas com pedras engenhosamente cortadas. O telhado do Templo é aberto de modo que os raios do sol-nascente podem alcançar um espelho dourado que data da época dos Primitivos Mestres e está montado na frente. Figuras de pedra de tamanho natural erguem-se de ambos os lados da entrada do templo. As paredes interiores estão cobertas de relevos. Numa grande arca de pedra embutida na parede fronteira do templo estão escritas as leis dos nossos Primitivos Mestres.

Contíguas ao Grande Templo do Sol, erguem-se às instalações dos sacerdotes e dos seus criados, o palácio do príncipe e os aposentos dos guerreiros. Estes edifícios têm forma retangular e são feitos de blocos de pedra esculpidos. Os telhados são de uma espessa camada de relva assente em estacas de bambu.

Na época do reino dos nossos Primitivos Mestres, outras vinte e seis cidades de pedra rodeavam Akakor, e são todas mencionadas na crônica. As maiores eram Humbaya e Patite, na região onde hoje se estende a Bolívia, Emim, na parte baixa do Grande Rio, e Cadira, nas montanhas da atual Venezuela. Mas todas elas foram completamente destruídas na primeira Grande Catástrofe, treze anos após a partidas dos Deuses.

Além destas poderosas cidades, os Antigos Pais, também ergueram três complexos sagrados: Salazere, na parte superior do Grande Rio, Tiahuanaco, no Grande Lago e Manoa, no elevado planalto do sul. Estas eram as residências terrenas dos Primitivos Mestres e terreno proibido para os Ugha Mongulala. No centro, elevava-se uma gigantesca pirâmide, e uma vasta escadaria erguia-se até a plataforma, onde os Deuses celebravam cerimônias que hoje nos são desconhecidas. O edifício principal era rodeado por pirâmides menores interligadas por colunas, e mais adiante, em colinas criadas artificialmente, erguiam-se outros edifícios, decorados com placas brilhantes. À luz do sol-nascente, contam os sacerdotes, as cidades dos Deuses pareciam estar em chamas. Irradiavam uma luz misteriosa que brilhava nas montanhas cobertas de neve.

Dos recintos do templo sagrado, só vi Salazere com os meus próprios olhos. Fica a uma distância de oito dias de viagem da cidade que os Bárbaros Brancos chamam Manaus, num afluente do Grande Rio. Os seus palácios e templos ficaram completamente cobertos pela selva de cipós. Só o topo da grande pirâmide ainda se ergue acima da floresta, coberto por uma densa mata de arbustos e árvores. Mesmo os iniciados têm dificuldade em chegar ao local onde moravam os Deuses.O território da Tribo que Vive nas Árvores está rodeado por profundos pântanos. Depois do primeiro contato desta tribo com os Bárbaros Brancos, ela retirou-se para as florestas inacessíveis que rodeiam Salazere. Ali, as pessoas vivem nas árvores como macacos, matando quem ouse invadir a sua comunidade. Só consegui alcançar os arredores do templo por esta tribo ser, há milhares de anos, aliada dos Ugha Mongulala, e ainda hoje respeitam os sinais secretos de reconhecimento. Estes sinais estão gravados numa pedra na parte superior da plataforma da pirâmide. Embora possamos copiá-los, perdemos toda a compreensão do seu significado. O cercado do templo também se mantém um mistério para o meu povo. Os edifícios são testemunho de um elevado conhecimento, incompreensível para os humanos Para os Deuses, as pirâmides eram não só moradias, mas também símbolos de vida e de morte. Eram sinais do Sol, da luz e da Vida. Os Primitivos Mestres ensinaram-nos que há um lugar entre a vida e a morte, entre a vida e o nada, que está sujeito a um tempo diferente. Para eles, a pirâmide era o elo com a segunda vida.