sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Em busca da cidade de ouro de Manoa: entrevista com o explorador Roland Stevenson

Em busca da cidade de ouro de Manoa: entrevista com o explorador Roland Stevenson




Segundo o explorador chileno Roland Stevenson, o povo Inca se abastecia de ouro no atual estado de Roraima, no extremo norte do Brasil.
Neste lugar existia um lago chamado Manoa, no qual havia uma ilha chamada Maracá, de onde justamente os Incas importavam o precioso metal.
Segundo Stevenson, nas margens ocidentais do lago viviam 14 etnias diferentes de indígenas, as quais utilizavam joias de ouro que comercializavam com os Incas.
A primeira expedição que se fez através dos Andes em busca do El Dorado foi organizada por Gonzalo Pizarro, o irmão de Francisco Pizarro.
Gonzalo Pizarro estava seguro de poder encontrar aquela cidade mítica e por conseguinte planejou a famosa expedição de 1541, a qual terminou na maior exploração fluvial de todos os tempos, levada a cabo pelo segundo comandante da viagem, o espanhol Francisco de Orellana, em 1542.
Sem embargo, do El Dorado não se encontrou rastro, dado que Orellana somente pôde navegar pelo rio que batizou Rio Amazonas (por haver visto mulheres guerreiras como as Amazonas da mitologia grega), já que, em primeiro lugar, não tinha os homens nem os meios para empreender uma viagem pelo interior e, em segundo lugar, porque o território era tão extenso, que sua exploração haveria requerido muitos anos.
Não obstante, as mulheres guerreiras eram uma realidade e os relatos indígenas fizeram crer que estas tinham sua própria cidade nas margens de um lago interno.
Nas expedições seguintes, vários aventureiros, a partir de 1584, tentaram chegar àquele lago chamado Manoa (“lago” em língua indígena acháua).
O primeiro explorador que adentrou na selva venezuelana em busca de Manoa foi o espanhol Antonio de Berrío em 1584. Explorou vários afluentes do Orinoco e do Caroní, mas não conseguiu atravessar as montanhas chamadas Pacaraima, mais além das quais os indígenas diziam que se encontrava o lago. Fez inclusive uma segunda expedição em 1591, mas não teve êxito.
O segundo aventureiro que adentrou na selva do Caroní foi o inglês Walter Raleigh, mas tampouco ele logrou o objetivo. De todos os modos, os dados que transmitiu serviram ao inglês Thomas Harriot para desenhar seu famoso mapa de 1599, no qual se localiza o lago, denominado Parime (em língua Caribe significa “grande lago”).
Por outro lado, alguns subalternos de Berrío e Raleigh, como Domingo de Vera e Pedro Maraver em 1593, e Laurence Keymis em 1596, chegaram até o lugar onde hoje está situada aproximadamente a fronteira de Venezuela-Brasil, e ficaram atônitos quando viram que os indígenas utilizavam grandes quantidades de ouro para adornar-se, mas não puderam continuar a viagem por falta de homens e de meios. A última expedição que se aproximou à zona do lago de Manoa foi a do inglês Thomas Roe, a qual também fracassou.
Segundo Stevenson, existia uma estrada pré-colombiana, hoje escondida entre a selva, que desde a atual Colômbia meridional chegava, passando pelo norte do Rio Negro, até o lago de Manoa, no atual estado brasileiro de Roraima, para terminar no litoral atlântico, correspondente ao que hoje é o estado do Amapá.
Este caminho chamado Nhamini-wi é rico em petróglifos que evocam a grande cultura do Peru.
Uma das provas que sustentam esta tese é a de que alguns povos que ainda hoje vivem por essas zonas falam línguas do tipo quéchua, tal como os Incas.
As línguas destes povos, como os Waiapí do Amapá ou os Talipang de Roraima, foram estudadas por eminentes linguistas, como Migliazza, e a tese de Stevenson foi confirmada.
Ademais, em toda a área se encontraram petróglifos que reproduzem alguns símbolos incaicos, por exemplo, o de uma lhama, e também isso incita a pensar que a tese do chileno tem um fundamento de verdade.
Stevenson, em algumas de suas viagens pelo estado de Roraima, encontrou também algumas pedras redondas e dentadas, utilizadas como porretes pelos Incas.
Em suas expedições, no transcurso de 29 anos, Roland Stevenson encontrou, ademais, o famoso lago de Parime, o qual hoje está seco, no lugar que atualmente se chama Lavrado de Boa Vista.
Depois de haver estudado o território, com a ajuda de alguns geólogos, Stevenson verificou que em todas as colinas e montanhas que circundam à savana, pode-se encontrar um sinal recorrente, situado a aproximadamente 120 metros sobre o nível do mar, que indica o nível do antigo lago.
Os geólogos da expedição, Federico Cruz, Salomão Cruz e Gert Woeltye deduziram, junto com o estudo dos solos e do pólen das flores, que a savana era antigamente um lago enorme, que tinha um diâmetro de 400 quilômetros e uma extensão aproximada de 80.000 quilômetros quadrados. Segundo esses investigadores, o lago começou a secar ao redor do começo do século XVI da era de Cristo.
Segundo Stevenson, o lugar exato onde esteve construída Manoa é na parte ocidental do lago, tal como se desenhou nos mapas da época, nas cercanias da ilha de Maracá. Stevenson explorou o lugar de Maracá em 1987 e encontrou restos humanos que provavelmente já haviam sido saqueados no transcurso dos anos.
Durante minha última viagem pela Amazônia, tive a oportunidade de conhecer o explorador chileno Roland Stevenson, que reside na cidade de Manaus desde há muitos anos e que dedicou sua vida à busca do El Dorado de Manoa.
A continuação, o texto da entrevista:
Yuri Leveratto: Senhor Stevenson, você sustenta que os Incas se abasteciam de ouro no lago Parime. Que necessidade tinham os Incas de viajar milhares de quilômetros, do atual Equador até a atual Roraima, para obter o que podiam encontrar no Peru, onde ainda hoje há muito ouro nos rios, por exemplo, no Madre de Dios? E se assim tivesse sido, o que davam em troca às populações de Roraima?
Roland Stevenson: Sim, é certo que no Peru havia muito ouro, mas Roraima era um dos lugares estratégicos, entre alguns outros, para abastecer-se do precioso metal. Em minha opinião, o trocavam por coca ou por animais típicos do Peru, como as lhamas.
Yuri Leveratto: Que evidências encontrou na chamada estrada pré-colombiana?
Roland Stevenson: Muitas. Sobretudo, vários muros de contenção, muitos petróglifos e pictogramas que representam símbolos incas, como, por exemplo, o de uma lhama. Ademais, encontrei alguns objetos tipicamente incaicos, como pedras redondas e dentadas, as quais eram utilizadas pelos Incas como porretes, quer dizer, como armas. Amarrava-se a um extremo de uma haste de madeira e se com essa golpeavam o crânio de um inimigo, podiam matá-lo. Outras evidências da existência do caminho pré-colombiano são as línguas dos povos indígenas que vivem naquela zona, das quais algumas pertencem ao tipo quéchua e, finalmente, meus estudos antropológicos, segundo os quais, com efeito, os povos de Roraima têm características somáticas parecidas às dos Incas.
Yuri Leveratto: Como chegou à conclusão de que o lago Parime existiu realmente?
Ronald Stevenson: Junto com alguns eminentes geólogos examinei, no transcurso de várias viagens, a zona chamada Boa Vista, uma vasta área situada ao norte da atual capital de Roraima. Pudemos verificar que, nas colinas circundantes, existe um claro sinal de demarcação situado a uns 120 metros sobre o nível do mar, que assinala o nível do lago nesse então, posto que agora está seco. Os geólogos da expedição estudaram o pólen das flores que há hoje no fundo do lago extinto e puderam verificar que este se secou a partir de 1300 de nossa era.
Yuri Leveratto: O que encontrou nos arredores do que foi o famoso lago de Parime?
Ronald Stevenson: Durante algumas das viagens que fiz pela zona, especialmente pela ilha de Maracá, encontrei várias tumbas e restos humanos, mas não encontrei nunca joias de ouro. A ilha de Maracá era uma necrópolis e os indígenas da zona sepultavam ali a seus defuntos deixando as joias de ouro sobre os cadáveres, porque suas superstições os impediam de levar consigo os objetos pessoais dos defuntos.
Depois de meus descobrimentos, todo o lugar foi declarado zona de grande interesse arqueológico e as autoridades brasileiras começaram a estudá-las desde um enfoque científico.
Yuri Leveratto: Segundo você, o El Dorado verdadeiro estava situado naquele lugar?
Ronald Stevenson: Sim, mas não era uma cidade pavimentada com ouro como se fantasiava. A palavra El Dorado tem origem espanhola. A zona da ilha Maracá simplesmente era um lugar riquíssimo em jazidas auríferas onde viviam várias tribos indígenas. O ouro foi saqueado com o passar dos séculos posteriores. Ainda hoje se fantasia com que haja uma cidade de pedra nas montanhas vizinhas, mas ninguém a encontrou.
Yuri Leveratto: Segundo você, pode haver existido anteriormente uma cultura amazônica primordial, da qual se originaram depois as distintas etnias?
Ronald Stevenson: Creio que a história do Novo Mundo tal como está, deva ser reescrita. Os primeiros colonizadores da América foram os africanos e não os asiáticos. Depois de meus estudos de antropologia somática, pude constatar que a maioria dos restos humanos achados no continente tem rasgos negroides e não mongoloides como se divulgou erroneamente. Em particular, os Olmecas e o povo que vivia em San Agustín, na atual Colômbia, são provas de minha tese. A mesma migração através do estreito de Bering, segundo minha opinião, é verdade só parcialmente. É provável que alguns povos asiáticos chegaram a América através do atual Alaska (os esquimós), mas eu considero que a maioria dos asiáticos chegou a América pelo mar, desde Japão e China, viajando em barcos rústicos, costeando o continente asiático e posteriormente as terras americanas. Esta migração primordial sucedeu antes da idade de bronze. Os asiáticos chegaram ao Peru e desde esse lugar se espalharam por todo o continente, tanto no Norte como na América do sul. Os descendentes dos asiáticos se mesclaram depois com os descendentes africanos e formaram a que foi a cultura mãe da Amazônia, a mais antiga da América.
Yuri Leveratto: Segundo você, o que há de verdade na crônica de Gaspar de Carvajal, o capelão da expedição de Orellana de 1542? Existiram realmente as Amazonas, as mulheres guerreiras?
Ronald Stevenson: Certamente, as Amazonas na verdade existiram, apesar de que os relatos que as descrevem são, em parte, exagerados. Provavelmente existiram tribos conformadas só por mulheres, e os espanhóis, servindo-se do mito grego das Amazonas, começaram a fantasiar e deste modo, as descreveram com um só seio, quando seguramente isto só fazia parte de um mito. Eu creio que estas mulheres foram as “Virgens do Sol”, mulheres incas que se refugiaram na selva depois dos saques e as violações feitas pelos espanhóis de Pizarro.
Yuri Leveratto: Qual é a etnia que mais lhe interessou no curso de suas viagens?
Ronald Stevenson: A etnia Yanomâmi. Eles creem que se recebem um presente, por exemplo, um machado de ferro, nele há uma parte do espírito de quem a presenteou. Esta é a razão pela qual não me mataram em uma ocasião, porque se o houvessem feito, teriam que abandonar os presentes que lhes dei nas viagens anteriores.
Yuri Leveratto: Qual é a verdadeira origem dos Yanomâmi?
Ronald Stevenson: Os Yanomâmi não são uma etnia de todo “pura”, como muitos antropólogos erroneamente a catalogaram. Ao contrário, eles têm uma origem asiática direta, mas também quéchua (ameríndia) e negroide. Ademais, mesclaram-se depois com caucasoides, quer dizer, com os filhos das mulheres incas que foram violadas pelos espanhóis. Esta é a razão de alguns traços somáticos típicos dos caucasoides, como cabelos loiros e olhos azuis ou verdes. Não se pode esquecer que viveram desde tempos imemoráveis no caminho pré-colombiano e que, portanto, tiveram contato com os chibchas e os quéchuas e posteriormente com os espanhóis que buscavam Manoa.
Yuri Leveratto: Senhor Stevenson, quando iremos ao território dos Yanomâmi? Você sabe que para mim seria difícil e perigoso ir só, mas com você, que tem experiência, a viagem me resultaria mais fácil e poderia aprender muitas coisas.
Ronald Stevenson: Decidi viajar uma vez mais à zona do Pico da Neblina no próximo ano. Se quiser, pode me acompanhar. Verá, os Yanomâmi não são tão violentos como se conta, simplesmente não gostam das fotografias, pensam que lhes roubam a alma fotografando-os. Mas para mim, que amo desenhar, tudo foi mais fácil, meus desenhos lhes causaram curiosidade e assim me fiz amigo. De maneira que se quiser, iremos no próximo ano, está bem?
Yuri Leveratto: Estarei muito contente de ir com você. Muito obrigado pela entrevista e por haver tentado decifrar um dos maiores mistérios de todos os tempos.

YURI LEVERATTO
2008 Copyright
Artigo traduzido por Victor Kawakami

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